domingo, 30 de agosto de 2009

Afinal meu caro, qual é a tua anomalia ?

Quase oito meses se passaram desde que a área foi selecionada. Uma boa situação geológica, um modelo metalogenético viável, área livre no controle do DNPM, a amostragem de sedimentos de drenagem foi planejada e bem executada, as amostras foram enviadas ao laboratório e os resultados foram recebidos e inseridos no banco de dados e o controle de qualidade com as duplicatas, replicatas e amostras padrão mostrou que as variações são perfeitamente aceitáveis e dentro dos limites estabelecidos. Enfim, um quadro dos melhores. E a hora da verdade chegou ! O tratamento e a interpretação dos dados geoquímicos para a identificação dos alvos exploratórios.
Quando chegam nesse ponto, várias pessoas já me perguntaram: qual o teor que devo considerar como anômalo ? Não existe uma resposta objetiva para uma pergunta tão vaga, e a única resposta possível é: Depende !

Depende de caracteristicas intrísecas aos dados produzidos e que estão subordinadas à fração granulométrica, quando se usam peneiras na preparação das amostras, ou de densidade, no caso dos concentrados de bateia; do ataque utilizado que pode variar desde um ataque fraco como o HCl a frio, passando por um ataque forte como o HNO3 concentrado e a quente e chegando ao ataque "total" como o HNO3 + H2SO4+HClO4; da técnica instrumental para a determinação, absorção atômica, ICP-AES ou ICP-MS e evidentemente do elemento analisado.

Depende também de fatores extrínsecos aos dados produzidos mas que exercem um controle fundamental sobre os mesmos como geologia, topografia, cobertura vegetal, tipo de solo, pluviosidade, características da rede hidrográfica e ações antrópicas.

Num exercício positivo de imaginação e de "concretização do desejo", vamos considerar que o levantamento sistemático e padronizado para o Brasil já esteja concluído. Esse levantamento, foi executado em cinco anos, por dezenas de equipes de amostradores que seguiram exatamente os mesmos protocolos de coleta, as amostras foram preparadas e analisadas pelo mesmo conjunto de procedimentos e o banco de dados contém o mesmo grupo de elementos. Enfim, um verdadeiro levantamento sistemático e padronizado sempre almejado por tantos geólogos e geoquímicos do Brasil.

Agora, sobre esse quadro, vamos fazer a mesma pergunta: para um certo elemento, qual o teor que deveremos considerar como anômalo ?

Para começarmos a elaborar uma resposta é necessário delimitar no mínimo duas condições.

A primeira é estabelecer o conceito de anomalia. Seriam os valores maiores que a média mais três desvios padrão, ou cerca de 0,1% dos valores ? Seriam os valores maiores que o percentil 95, ou 5% dos valores ? Seriam os valores maiores que a média da população superior num gráfico de probabilidade ? Certamente todos esses valores serão diferentes já que foram selecionados com critérios diferentes.

A segunda condição é: Onde ? Se considerarmos o Brasil teremos uma resposta (Figura 1 abaixo), se considerarmos a região Centro-Oeste teremos outra, se considerarmos o Grupo Bambuí teremos outra, se considerarmos uma área bem reduzida e mineralizada teremos outra, se considerarmos uma área virgem teremos outra e se considerarmos uma área submetida a longa e intensa ação antrópica teremos outra (Figura 2 abaixo). Provavelmente todos os resultados serão muito diferentes, já que a diversidade de fatores geológicos, climáticos, de cobertura vegetal e de ocupação humana são totalmente diversos.





Figura 1 - Estabelecer um critério único para definir anomalias sem levar em conta, por exemplo, a diversidade do fundo geológico da área investigada.




Figura 2 - Estabelecer critérios específicos para definição de anomalias levando em conta, por exemplo, a diversidade do fundo geológico da área investigada.



Por isso, quando alguém me fizer novamente essa pergunta, responderei novamente: Depende !

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