quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Orientar ou não orientar ? Eis a questão !

Alguns geólogos acreditam que a prospecção geoquímica não funciona ! Eu sou obrigado a concordar, mas desde que eles tenham coletado amostras de materiais errados, no local errado, analisando o elemento errado pelo método errado e interpretando os resultados com uma técnica errada.
Não existe nenhuma justificativa razoável para que levantamentos geoquímicos tenham sucesso se for seguido cegamente o procedimento de solicitar ao laboratório que a fração menor que 80# das amostras de sedimento de drenagem seja atacada com água regia e que as determinações sejam feitas por absorção atômica. Depois de recebidos os resultados, com uma grande quantidade de valores menores que o limite de detecção, os mapas serão desenhados com o critério de média, média + 1 desvio padrão, média + 2 desvios padrão e média + 3 desvios padrão. Gostaria que alguém de sã consciência respondesse porque durante tanto tempo esse conjunto de procedimentos se transformou em um dogma sagrado sem o mínimo questionamento ?
Para aguçar a nossa curiosidade podemos elaborar algumas perguntas simples. E se os metais de interesse se concentrarem na fração mais grossa que 80 ou na mais fina que 200 mesh ? E se os elementos de interesse forem extremamente refratários e só liberados por meio de um ataque vigoroso com quatro ácidos fortes combinados ? E se os teores forem tão baixos que apenas o ICP-MS será capaz de detectá-los ?
Essas e outras perguntas podem ser respondidas por meio de um procedimento experimental conhecido por estudo geoquímico orientativo - EGO, planejado para um certo ambiente geológico-fisiográfico e que obrigatoriamente tenha como alvo, uma ocorrência ou depósito razoavelmente conhecido quanto a dimensões, forma e relação com encaixantes. Se existir uma sondagem com testemunhos recuperados, muito melhor ! É evidente que as conclusões obtidas com um EGO realizado na Amazônia não terão a mínima aplicação para o planejamento de um levantamento geoquímico no semi-árido nordestino.
Um EGO deve procurar entender a constituição geoquímica da mineralização, as associações elementares que a caracterizam, os contrastes entre mineralização e as encaixantes estéreis, a forma de dispersão (hidromórfica ou clástica) dos elementos farejadores e dos indicadores da mineralização e a distância ou espaçamento máximo para que as amostras sejam capazes de identificar o sinal geoquímico do alvo estudado.
O segredo de um EGO é muito simples: indicar o conjunto de procedimentos capaz de maximizar os contrastes entre a área mineralizada e a estéril. Para isso, ao final de um EGO, devem ficar definidos o material a ser amostrado, a forma de coleta, a forma de preparação, a melhor fração, o ataque químico e a técnica analítica e a técnica de interpretação.
Porém, um EGO tem dois problemas. O primeiro é que ele exige uma ocorrência e uma situação climática, topográfica, pedológica e de cobertura vegetal semelhante à dos depósitos procurados o que, reconheço não é fácil de encontrar. O segundo é seu custo, já que cada amostra coletada pode gerar algumas sub-amostras que deverão ser todas submetidas a vários procedimentos analíticos. Isso produzirá uma grande quantidade de resultados que deverão ser devidamente manipulados e interpretados, com técnicas numéricas, gráficas e cartográficas.
Por outro lado, se um EGO pode ter um custo relativamente elevado e apresenta algumas dificuldades de execução, ele dará subsídios preciosos para os ajustes de método de, por exemplo um grande levantamento regional que, se for mal planejado, poderá ser totalmente ineficaz, com desgaste de equipe e desperdício de recursos e de tempo.
Um EGO bem planejado e executado pode representar um enorme avanço tecnológico para uma companhia e um trunfo em relação às concorrentes.

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