domingo, 23 de agosto de 2009

Quanto mais perto melhor ? Nem sempre !

Para entender qualquer fenômeno e para reconhecer um problema, é fundamental ter uma visão geral dos parâmetros relevantes antes de selecionar as feições específicas. A exploração mineral e em particular a exploração geoquímica não são exceções desse princípio. Isso porque os processos mineralizadores são fenômenos essencialmente geoquímicos que podem ser descritos por uma associação de elementos que definem sua assinatura geoquímica. Um conjunto de depósitos ou ocorrências produzidos por um mesmo processo mineralizador podem se agrupar de forma a caracterizar regiões conhecidas como províncias geoquímicas. Assim, esse conjunto de alvos exploratórios que se refletem como áreas geoquimicamente anômalas ou com teores elevados estão interconectados por uma elevação regional dos teores dos elementos maiores, menores, traço e ultra-traço componentes da assinatura geoquímica geral do processo mineralizador. Um levantamento geoquímico regional de baixa densidade amostral será capaz de identificar essa elevação do fundo geoquímico regional abrindo caminho para investigaões de maior detalhe e densidade amostral capazes de capturar o sinal geoquímico dos depósitos individuais.



Figura 1 - Os halos de dispersão de depósitos de grande e pequeno porte ou então de um depósito aflorante e um sub aflorante. (Figura de Bonham-Carter, 1996)



Assim, como regra geral, quanto maior for o alvo menor pode ser a densidade amostral, porém a dura contrapartida é que muito maior deverá ser a qualidade das técnicas amostrais e mais acurados os procedimentos analíticos especialmente para os elementos ultra-traço como Au, Pt, Pd, As, Sb, Bi, Te e Hg, com teores expressos em ppb ou ppt.Esse conjunto de caracteristicas mostram que as feições geoquímicas na exploração mineral são claramente padrões fractais, formas que se reproduzem independentemente da escala de observação ou de representação, ou seja “semelhantes a si mesmas” (self-like).

Figura 2 - A expressão fractal de feições. Bolviken et al (1992)

Na Grã- Bretanha, nos mapas elaborados com densidades amostrais cada vez menores, ou melhor, com espaçamentos cada vez mais rarefeitos, as feições regionais de grande porte que envolvem grupos de alvos exploratórios localizados permanecem inalteradas.

Figura 3 - Simulações de rarefação amostral a partir de um levantamento geoquímico de sedimentos de drenagem de alta densidade (acima a esquerda). Fordyce et al apud Darnley (1995)

Na Finlândia, um país com cerca de 400.000 km2, as feições geoquímicas se mantêm quando são comparados os mapas elaborados com 80.000 amostras e 1.000 amostras

Figura 4 - Mapas geoquímicos do Cu na Finlândia, elaborados com 80.000 amostras (à esquerda) e com 1.000 amostras (à direita).

Numa pesquisa comparativa entre técnicas analíticas tradicionais com não convenconais na Província de Shandong, China, foi demonstrada a existência de feições geoquímicas de grande porte como a linha de contorno de 2 ppb de ouro solúvel em água envolvendo depósitos auríferos de grande porte.

Figura 5 - A linha de contorno de 2 ppb Au delimita uma província geoquímica regional que engloba diversos depósitos auríferos e minas da Provincia de Shandong. Wang et al (1997)

No Paraná, o mapa geoquímico do Au elaborado com apenas 39 amostras compostas a psrtir de 696 amostras de sedimentos de drenagem cobrindo todo o Estado do Paraná, os resultados de um levantamento de baixa fazem uma delimitação perfeita (a mancha vermelha no centro leste do mapa) da região próxima de Curitiba onde são conhecidas diversas pequenas ocorrências de ouro, a antiga mina Leão Junior e está em operação a mina de ouro do Povinho de São João, município de Campo Largo. Também fica bem identificada a região litorânea, no extremo leste do mapa, onde existem diversas ocorrências e depósitos de ouro e onde, em 1565, ocorreu o primeiro garimpo de ouro do Brasil.

Figura 6 - Mapa geoquímico do Au do levantamento de baixa densidade do Paraná (Licht, 2001).
Foi com esse objetivo que o Projeto IGCP-259, depois IGCP-360, definiu um grid de 1º 30', padrão para os levantamentos geoquímicos de baixa densidade em todo mundo. Esses padrões foram usados pelo FOREGS - Forum de Serviços Geológicos da Europa para a elaboração do Atlas Geoquímico da Europa (veja na lista de links ao lado) e pelo Serviço Geológico do Brasil na região Nordeste (veja a matéria postada anteriormente).


Figura 7 - Grid de 1º 30' para o Brasil e para a China, segundo o padrão do IGCP-360 visando a integração de levantamentos geoquímicos e a elaboração de uma Carta Geoquímica do Mundo (CPRM e IGCP-259)

Os diversos levantamentos geoquímicos realizados na China mostram que os limites das províncias geoquímicas são preservados mesmo nos mapas de densidade ultra baixa, com bacias hidrográficas de até 10.000 km2.

Figura 8 - Mapa geoquímico da Pt no solo de 5 a 25 cm de profundidade da China, segundo o padrão do IGCP-360 visando a integração de levantamentos geoquímicos e a elaboração de uma Carta Geoquímica do Mundo (Darnley, 1995).

Assim, fica clara a idéia de que levantamentos de baixa densidade amostral são fundamentais para dar suporte às decisões de seleção de áreas de interesse para a indústria mineral, associados com os levantamentos geofísicos e os levantamentos geológicos.

Para saber mais sobre esse assunto:
1. Bolviken, B., Stokke, P. R., Feder, J., and Jossang, T., 1992, The fractal nature of geochemical landscapes: J. Geochem. Explor., v. 43, p. 91–109
2. Bonham-Carter G.F.(1996).Geographic Information Systems for geoscientists. Ontario: Pergamon, 400 p.
3. Darnley, A.G. 1995. A Global Geochemical Database for Environmental and Resource Management. Pris. UNESCO. Final Report of IGCP Project 259
4. Edén, P., Björklund,A.. 1994. Ultra-low density sampling of overbank sediment in FennoscandiaJournal of Geochemical Exploration, v51, n 3, 265-289
5. Licht,O.A.B., Plawiak, R.B. (2005) Geoquímica de Solo do Estado do Paraná. Curitiba. Mineropar. 2 vol.
6. Licht, O.A.B. 2001. A geoquímica multielementar na gestão ambiental (...). (Tese de Doutorado). Curitiba. UFPR. 2 vol.
7. Xueqiu Wang, Zhizhong Cheng, Yinxiu Lu, Li Xu and Xuejing Xie. (1997) Nanoscale metals in Earthgas and mobile forms of metals in overburden in wide-spaced regional exploration for giant deposits in overburden terrains. Journal of Geochemical Exploration v58, n1, 63-72

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