sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Prospecção geoquímica, quantas bobagens se cometem em teu nome !

Nesses quase 35 anos que trabalho em projetos de prospecção geoquímica, para diversas empresas privadas e estatais e nos mais diversos lugares e ambientes geológicos, isso me incomoda.
Quando uma companhia necessita de um serviço de prospecção geofísica, contrata uma empresa especializada que conta com uma bela aeronave, equipamentos adequados e calibrados, pessoal de campo treinado e pelo menos um geólogo especializado ou geofísico para o planejamento, supervisão e acompanhamento. Devido a enorme quantidade de dados que são coletados, o processamento e o tratamento exige recursos computacionais sofisticados. Por esse motivo, normalmente os resultados correspondem aos propósitos iniciais do projeto.
Porém, e infelizmente, a "coisa" muda de figura quando uma companhia planeja um serviço de prospecção geoquímica ! Após o planejamento das estações de amostragem, vem a fase de coleta de centenas ou até milhares de amostras com as coordenadas determinadas com GPS com excelente precisão. Essas amostras são enviadas a um laboratório para determinação de dezenas de elementos químicos por ICP-MS com sensibilidade de partes por milhão ou até por bilhão. O responsável pelo projeto recebe os resultados do laboratório por internet de alta velocidade, os quais serão automatica e instantaneamente carregados em um banco de dados sofisticado e com fortes controles de segurança. Pronto ! Está gerado um enorme banco de dados, resultado de um esforço gigantesco de dezenas de pessoas, e uma grande quantidade de recursos financeiros, materiais e de tempo. Muito bem ! Hora de arregaçar as mangas e partir para a interpretação dos dados.
Posso antever três cenários, para que o leitor tire as suas conclusões:
Cenário 1 - o geólogo responsável pelo projeto passa os olhos pelos boletins analíticos - porque não entendo nem acredito em computadores, softwares e bancos de dados - e com uma caneta vermelha,  marca os valores do elemento de interesse que saltam aos olhos e que a seu arbítrio considera anômalos.
Cenário 2 - o geólogo responsável pelo projeto usa uma planilha eletrônica para calcular a média e o desvio padrão e com base nesses estimadores, estabelece anomalias de terceira, segunda e primeira ordens dos elementos de interesse.
Cenário 3 - o geólogo responsável pelo projeto, examina cuidadosamente os valores de cada elemento analisado, constrói e analisa a tabela de frequências, histograma e gráfico de probabilidade, identifica e separa populações que podem representar diferentes litologias ou então discriminar áreas estéreis das mineralizadas, conseguindo assim caracterizar os valores anômalos com precisão quase cirúrgica, compatível com o cuidado com que os dados foram produzidos.
É evidente que os valores mais altos serão sempre os que merecem o nosso interesse, independentemente da técnica estatistica ou empírica que adotarmos. Mas porque desprezar os valores suavemente elevados que circundam esses teores excepcionais, formando grupos de amostras capazes de definir lineamentos, estruturas ou verdadeiros halos geoquímicos sobre áreas de interesse, que se tratadas de maneira mais expedita poderiam ser expressas no mapa geoquímico como uma ou duas bolinhas vermelhas isoladas ?
Além disso é importante lembrar que o sinal geoquímico de depósitos encobertos pode se mostrar não apenas na forma de teores extremos de elementos isolados, mas principalmente na forma de associações geoquímicas de elementos farejadores e/ou indicadores, todos em teores sutilmente discrepantes do fundo geoquímico regional.

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