Durante o International Geochemical Exploration Symposium realizado em abril de 1968 na Colorado School of Mines em Denver, Colorado, aconteceu uma sessão painel sobre a Formação (Education) do Geoquímico de Exploração. Mesmo que esse evento tenha ocorrido há 40 anos, numa realidade econômica e social totalmente diversas de hoje, os depoimentos e os debates mostram que algumas questões permanecem muito atuais. Aí está um resumo do relato de 12 páginas dessa sessão painel.
Harold Bloom (Colorado School of Mines) - salientou a carência de geólogos especializados em técnicas geoquímicas seja nos países industrializados, em desenvolvimento e também nos países que estavam se formando. Num recente período de estudos na University of Adelaide ele encontrou um ambiente de pressão da indústria sobre a academia no sentido de formar especialistas. Alguns professores inexperientes no tema procuravam suprir as necessidades de formação de profissionais num país que estava experimentando um período de forte expansão das atividades de exploração.
Robert Boyle (Geological Survey of Canada) - os serviços geológicos têm importante papel a desempenhar : (1) fornecimento de dados sobre a abundância e caracteristicas de mingração dos elementos químicos; (2) desenvolvimento e testes de aplicação de técnicas de campo, análise e interpretação adequadas à prospecção geoquímica de depósitos minerais. Para atender a esses objetivos a formação de um profissional deve atender: (1) uma sólida formação geológica especialmente nos processos de formação de depósitos minerais; (2) conhecimento básico dos processos geoquímicos de dispersão e concentração dos elementos nas rochas, solos, águas naturais, gases e seres vivos; (3) conhecimento básico nas técnicas e levantamentos de prospecção geoquímica especialmente aqueles relacionados com a identificação de halos primários, halos de fuga e feições de dispersão secundária; (4) um conhecimento das técnicas analíticas suficiente para identificar suas potencialidades, aplicações e limitações; (5) um conhecimento estatístico adequado para tratamentos matemáticos e identificação de feições obtidas nos levantamentos geoquímicos.
Thomas Lovering (University of Utah) - deu ênfase no papel do USGS. O desenvolvimento de novas técnicas e a exploração de novas áreas onde a iniciativa privada não teria coragem de assumir os riscos. Haveria uma clara divisão entre vários profissionais como o geólogo de campo e o geoquímico trabalhando juntos, o quimico de laboratório capaz de processar centenas de amostras/dia e o quimico voltado à pesquisa de novas técnicas e para redução dos limites de detecção. O geoquímico de exploração seria um geólogo com muita experiência e que se interessou e foi autodidata nas aplicações da geoquímica ou quem foi forçado a se especializar pois seu chefe teria dito "Eu ouvi algumas coisas sobre essas técnicas e temos que testá-las." Estaria chegando o momento das universidades darem atenção e adaptarem seus currículos para preparar geoquímicos de exploração incluindo no currículo estatística , computação, técnicas e erros de amostragem.
R. Barker (Amax Exploration Company) - o ponto principal da formação de um geoquímico de exploração é a necessidade de pesquisas excitantes, interessantes e desafiadoras em exploração geoquímica. Ele deve ser um geólogo experiente em todos os aspectos da ciência geológica. Tem ocorrido uma ênfase completamente errônea e enganosa sobre a simplicidade das técnicas e da velocidade com que os dados são coletados e interpretados. Isso dá a entender que não há nada de ciência envolvido e que o processo de amostragem é apenas simples e tedioso. Um geoquímico de exploração deve ter bom conhecimento dos processos fisicos e quimicos envolvidos na hidrologia, pedologia, biologia, meteorologia e geomorfologia. O Prof. John Webb e seus colegas da Royal School of Mines mostraram ser possível formar profissionais com tais qualidades e o fato de nenhuma universidade americana ter programa semelhante é uma tragédia, e esta responsabilidade recai sobre cientistas e gerentes da indústria, universidades e governo.
J. Coppe (Newmont Mining Company) - um geoquímico de exploração empregado por uma empresa de mineração deve ser capaz de avaliar e aplicar a geoquímica em qualquer região, conduzir estudos geoquímicos orientativos para otimizar as técnicas de amostragem e determinar as melhores técnicas analíticas, dirigir o programa de amostragem e interpretar os resultados. Um embasamento completo em geologia é a mais essencial exigência para um geoquímico de exploração: ocorrência e formação de depósitos minerais, petrologia, estratigrafia, geologia estrutural, geomorfologia, processos do intemperismo, pedologia, hidrologia, quimica orgânica e inorgânica. Porém o mais importante professor de prospecção geoquímica é a experiência de campo na forma de trabalhos práticos e estudos supervisionados de pós graduação. A publicidade dada à exploração geoquímica enfatizou a simplicidade e o baixo custo dos métodos geoquímicos e criou uma imagem de pessoas sacudindo tubos de ensaio e produzindo belas cores. Muito pouca atenção foi dada à complexidade do ambiente natural e os inúmeros problemas da amostragem e análise. Com isso, disseminou-se a impressão que seria muito mais uma atividade de químicos que de geólogos, o que bloqueou os esforços daqueles que gostariam de colocar a exploração geoquímica nos currículos de geologia nas universidades, dificuldades que felizmente estão sendo superadas.
Howard Hawkes (consultor) - a grande questão é formar um profissional com todo conhecimento teórico e que irá praticá-lo apenas quando ingressar na indústria ou formar um profissional apenas com conhecimento aplicado que terá dificuldade de entender e colocar em prática os princípios e filosofias de novas tecnologias que surgirão no curso de sua carreira. "Eu conheço diversas empresas petroleiras que não querem pessoal especializado: Nos dê um fisico ou um químico que podemos transformá-lo no que precisamos." Existem quatro maneiras de especializar um profissional: cursos de treinamento na indústria; cursos de treinamento especializado nas universidades; suporte de consultores especialistas; e finalmente a melhor maneira de aprender coisas que é a escola da experiência.
Alexei Beus (ONU) - a aplicação dos principios e métodos geoquimicos para a prospecção mineral devem ser considerados como um instrumento importante dos serviços geológicos em todo mundo. A experiência da última década mostrou que um geoquímico de exploração deve ter um bom conhecimento dos ramos da geologia pertinentes à depósitos minerais e geomorfologia, assim como em técnicas analíticas. Os geoquímicos exploracionistas da URSS são geólogos com bom fundamento em geoquímica e treinados em química e análise espectral de rochas, minerais e minérios. Porém na URSS um geoquímico de exploração não se envolve com as rotinas analíticas que são realizadas por pessoal especializado e capaz de alta produção. Atualmente há um programa de treinamento em estatística para a avaliação e interpretação dos resultados.
W.Tupper (Carleton University) - os programas de educação e pesquisa na universidade começaram em 1958 e foram ofertados na graduação e no pós graduação como mestrado e doutorado. O problema mais sério é a falta de comunicação com a indústria e com o governo para identificar a qualificação dos profissionais no curto e no médio prazo. Enumerou algumas dificuldades na liberação de recursos de pesquisa e quando uma solicitação era negada não recebiam a justificativa. Muitas empresas ofereciam estágios de férias para estudantes de graduação e pós- o que dava um bom impulso na formação e na experiência. As empresas teriam mostrado pouco interesse nos cursos de geoquímica aplicada com duração de 10-15 dias ofertados pela Universidade.
John Webb (Imperial College) - com a sofisticação das técnicas analíticas, ocorreu um gradativo aumento da complexidade das técnicas de exploração geoquímica, mesmo que as técnicas de amostragem continuem bastante simples. A função da universidade é evidente, não só fornecendo os profissionais treinados como a indústria necessita, mas contribuindo com pesquisas para solucionar os problemas imediatos da indústria, e também agindo por antecipação começando agora pesquisas que terão resultados em 5 a 10 anos. "Concordo que não é adequado formar geoquímicos de exploração na graduação, mas não aceito a afirmação que geólogos devem adquirir a experiência necessária apenas exercendo a profissão nas empresas." Atualmente a diversidade das técnicas e o refinamento da interpretação são tais que exigem programas de treinamento em nível de pós graduação. No Imperial College, todos os estudantes e a equipe, exceto os químicos, são muito bons em fundamentos de geologia e têm preferência os que trabalharam alguns anos na indústria e retornaram à universidade para treinamento especializado ou pesquisa. Os ingredientes fundamentais do nosso Applied Geochemistry Research Group são a existência de 15 a 20 projetos simultâneos, o entusiasmo e energia de nosso grupo e o encorajamento a todos que prestem consultoria à indústria para que estejam mais próximos dos problemas a serem pesquisados e resolvidos e que sua remuneração esteja mais alinhada com os salários das empresas. Em resumo, o Applied Geochemistry Research Group está baseado no conceito que é nossa responsabilidade buscar e investigar todos os problemas onde a geoquímica pode auxiliar a comunidade.