sábado, 19 de setembro de 2009

Série "Memórias Geoquímicas" - Conhecer e respeitar o passado para entender o presente e planejar o futuro

Último capítulo - Continuação do Capítulo 4 postado em 15/9/21009

Capítulo 5 - Terceira fase do projeto - Estudo regional: objetivos perseguidos. hipóteses de trabalho

O estudo regional, como se deixou transparecer nos parágrafos anteriores, foi o de verificar ou delinear eventual província geoquímica de cobre e/ou outros metais e identificar alvos geoquímicos merecedores de estudos mais detalhados: geofísica (possivelmente gravimetria quando houver corpos máficos associados e presença de magnetita e grafita em outros tipos de rocha) e sondagens.

5.1 HIPÓTESES DE TRABALHO LEVANTADAS

A - Se fosse delimitada uma província geoquímica de cobre no vale do Curaçá, as jazidas de cobre eventualmente delineadas seriam do mesmo tipo das de Caraíba, isto é, cobre associado a rochas máficas e ultramáficas. Entretanto, não havia elementos (nos anos 1960 e 1970) para se assegurar que essa hipótese iria ser confirmada.

B - Os resultados encontrados em Caraíba se aplicariam em escala regional, do ponto de vista de mobilidade relativa, dos elementos analisados, da associação geoquímica, da intensidade e dimensão dos halos geoquímicos de cada alvo ou ocorrência. Este pressuposto encontra, porém sérias limitações: profundidade do corpo de minério em relação à superfície, que pode ser sub-aflorante ou não; superfícies de falha cortando os corpos de minério em profundidade e atingindo a superfície (produzindo vazamento de anomalia); elementos químicos presentes que podem interferir nos resultados analíticos; dimensão do corpo mineralizado. Logo, o intervalo de amostragem (1.000x500 metros) indicaria preferencialmente corpos minerais nas condições gerais do que existe em Caraíba, mas poderia deixar de fora importantes mineralizações, por exemplo, por causa da profundidade em que se encontram.

C - A mineralização teria filiação máfica/ultramáfica, em corpos que teriam se formado antes ou durante o intenso metamorfismo regional, que envolve anatexia com reações químicas entre as rochas e assim os halos geoquímicos primários (condições de elevadas pressão e temperatura) teriam caráter epigenético (dispersão por efeito do metamorfismo).

D - O grau de metamorfismo seria essencialmente o mesmo em toda a região do vale do Curaçá, pois se não o fosse, invalidaria o intervalo de amostragem adotado (1.000x500m), que produziu resultados positivo.

E - Considerando o solo como sendo residual em toda a região do vale do Curaçá, a dispersão dos elementos no ambiente geoquímico secundário (solos) revelaria a mesma configuração da dispersão desses mesmos elementos químicos no ambiente geoquímico primário (rochas).

F - Se a gênese admitida como sendo máfica/ultramáfica não se confirmasse, muitas jazidas poderiam ser perdidas, isto é, não seriam identificadas como jazidas potenciais, inclusive porque em Caraíba as rochas máficas/ultramáficas originaram solos ricos em montmorillonita, o que tem o mérito de realçar as anomalias geoquímicas por efeito da adsorção de cátions exercida por esses minerais argilosos. Se a associação fosse félsica (rochas silico-aluminosas) o intervalo de amostragem teria de ser bem menor (fraca adsorção). Eventual baixo grau de metamorfismo em partes da região estudada teria efeito semelhante.

5.2 Uma importante conclusão – A aplicação de prospecção geoquímica em detalhe como orientação para sua aplicação à prospecção geoquímica regional, mostrou que a amostragem de solo constituiu uma técnica eficaz e eficiente para ser aplicada em prospecção geoquímica regional no Nordeste semi-árido da Bahia e que a configuração da dispersão, após ajustada pelo processo de média móvel, pode sugerir também o tipo de controle geológico – litológico e/ou estrutural – da mineralização de cobre no vale do rio Curaçá. Possivelmente a metodologia se aplicará a todo o semi-árido do Nordeste do Brasil.

5.3 IDEIAS SUGERIDAS PELO LEVANTAMENTO REGIONAL REALIZADO: os mapas geoquímicos de caráter regional constituem também a base essencial de um MAPA AMBIENTAL

Foram identificadas duas província cupríferas: 1) uma acompanhando o eixo da bacia do rio Curaçá, aparentemente mono-metálica, isto é, somente cobre. 2) outra, cerca de 50km a leste da primeira, com níquel e cobre, mas com forma e extensão ainda indefinidas.

Foi identificada também uma província cromífera, para o sul, com forma e dimensão não definidas, podendo atingir a região de Itiúba e talvez incluindo as ocorrências de Queimadas e Santa Luz, mais ao sul. A titulo de ilustração, em Itiúba, ao sul de Caraíba, localizou-se mais tarde, ocorrência de minerais de cromo e, a sudoeste (em Campo Formoso), havia uma mina de cromita em início de operação. Mais tarde foi descoberta jazida de ouro, em rocha máfica, em Serrinha, a sudeste de Caraíba. Em Floresta, Pernambuco, em 1973-78 foi definida um distrito titanífero. Assim, poderíamos estar diante de um zoneamento metálico. Essa suposição pode estimular importantes trabalhos de pesquisa, lembrando que a amostragem de solo pode ser complementada com amostragem de sedimentos de corrente (e água em regiões de clima mais úmido e evaporação menos intensa que no semi-árido do Nordeste do Brasil) com o objetivo de preparar um mapa ambiental. A parceria prospecção geoquímica regional e preparo de mapa do meio ambiente é altamente desejável.

Entre 1970 e 1975 foi executado um programa de definição de alvos geoquímicos, baseado nos mesmos pressupostos, onde as condições geológico-climáticas são análogas e foram identificados 36 (trinta e seis) alvos geoquímicos na bacia do rio Curaçá. Todos esses alvos foram objeto de estudo mais cuidadoso, com prospecção detalhada, abertura de trincheiras, levantamento geofísico e sondagem rotativa com testemunhos de sondagem. Esse é outro capítulo que poderá ser objeto de publicação, e divulgação, mais tarde.

De qualquer modo, convém salientar a importância da metodização, da sistematização e da continuidade do trabalho, condições essenciais para um programa bem sucedido de prospecção mineral, como posteriormente foi adotado pela CBPM, na Bahia, e outras entidades do ramo no país.

Uma observação final: outros projetos de prospecção geoquímica podem ser comentados sob esse mesmo tipo de perspectiva. (1) Prospecção na região de Lagarto, em Sergipe; (2) prospecção na região da falha de Maragojipe, na parte oeste do Recôncavo baiano; (3) na bacia do Itapicuru, além de dois outros, sendo um em Pernambuco e o segundo na região de Paramirim (Ibiajara/Ibitiara) na parte oeste da Chapada Diamantina da Bahia. Em adição, pode ser expandida a etapa de prospecção regional com discussão e conclusões dos trabalhos sobre os alvos geoquímicos revelados na prospecção regional do vale do Curaçá, mencionado um pouco acima.

Sylvio de Queirós Mattoso

Salvador, BA, 02 de setembro de 2009

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