Continuação do Capítulo 1 postado em 4/9/2009 (ver abaixo)
Capítulo 2 - Considerações sobre o Projeto de Prospecção Geoquímica e seu provável sucesso como metodologia a ser aplicada no levantamento de recursos minerais no Brasil
2.1 Trabalho pioneiro. Razões da escolha da área geral de trabalho. Prospecção orientativa e aplicação dos resultados da fase orientativa na prospecção geoquímica regional. As três etapas ou fases do projeto
Nos anos 1950, a região da Bahia que se estende do rio São Francisco para o sul, até o rio Itapicuru, com o meridiano de 40º como eixo, poderia ficar esquecida ainda por muito tempo devido ao clima com chuvas mal distribuídas (no tempo e no espaço), considerado então como impróprio à agricultura convencional, apesar do relevo quase plano interrompido por ocasionais serras (Itiuba e outras) e sem rios perenes. Entretanto, ocorrências minerais conhecidas desde o século 18, de cobre, cromo, ouro e outros levaram o governo brasileiro a considerar essa região como prioritária em seus programas de estudos geológicos. Em adição, a rede de drenagem dessa região é bastante densa, favorece a construção de barragens para açudagem e satisfação plena das necessidades de água para uso doméstico e irrigação, o que poderia ser complementado com sucesso por poços tubulares e construção de cisternas para recolher a água da chuva e amenizar o efeito da evaporação que atinge anualmente até 3.600 milímetros, que é justamente o que agrava a baixa precipitação entre 250 e 500 milímetros por ano nessa região. A atividade de mineração na região teria o mérito de acelerar e viabilizar as obras para sanar o abastecimento de água no Nordeste semi-árido da Bahia. Os tipos de rochas, o intenso metamorfismo que as afetou, o tipo de relevo dominante nas condições de clima da região permitiram o desenvolvimento de solos residuais, isto é, desenvolvidos pela ação do intemperismo sobre as rochas subjacentes, mas ocasionalmente interrompidos por massas de rocha fresca (não alterada por ação do intemperismo) de extensão variada, que favorecem a aplicação de técnicas de prospecção geoquímica.
Essa região, com cerca de 250 km de comprimento Norte-Sul, e cerca de 100 km de largura, apresenta uma geologia que guarda muitos aspectos semelhantes aos complexos máficos ora da África do Sul, ora do Canadá, ora da Austrália.
País carente de cobre até o fim dos anos 1970, importando 95% de suas necessidades anuais desse metal imprescindível para o programa de distribuição de eletricidade da rede de usinas hidroelétricas em construção e necessárias à industrialização do país, era natural que essa parte do Nordeste da Bahia despertasse interesse especial do ponto de vista econômico.
Até 1960, os estudos relativos à geologia da região praticamente limitaram-se a tratar dos depósitos minerais de Campo Formoso, Santa Luz, Saúde, do depósito de minério de cobre de Caraíba e ocorrências em sua vizinhança, ouro, urânio e manganês da rega da serra de Jacobina e ouro nos aluviões do rio Itapicuru.
2.1 Trabalho pioneiro. Razões da escolha da área geral de trabalho. Prospecção orientativa e aplicação dos resultados da fase orientativa na prospecção geoquímica regional. As três etapas ou fases do projeto
Nos anos 1950, a região da Bahia que se estende do rio São Francisco para o sul, até o rio Itapicuru, com o meridiano de 40º como eixo, poderia ficar esquecida ainda por muito tempo devido ao clima com chuvas mal distribuídas (no tempo e no espaço), considerado então como impróprio à agricultura convencional, apesar do relevo quase plano interrompido por ocasionais serras (Itiuba e outras) e sem rios perenes. Entretanto, ocorrências minerais conhecidas desde o século 18, de cobre, cromo, ouro e outros levaram o governo brasileiro a considerar essa região como prioritária em seus programas de estudos geológicos. Em adição, a rede de drenagem dessa região é bastante densa, favorece a construção de barragens para açudagem e satisfação plena das necessidades de água para uso doméstico e irrigação, o que poderia ser complementado com sucesso por poços tubulares e construção de cisternas para recolher a água da chuva e amenizar o efeito da evaporação que atinge anualmente até 3.600 milímetros, que é justamente o que agrava a baixa precipitação entre 250 e 500 milímetros por ano nessa região. A atividade de mineração na região teria o mérito de acelerar e viabilizar as obras para sanar o abastecimento de água no Nordeste semi-árido da Bahia. Os tipos de rochas, o intenso metamorfismo que as afetou, o tipo de relevo dominante nas condições de clima da região permitiram o desenvolvimento de solos residuais, isto é, desenvolvidos pela ação do intemperismo sobre as rochas subjacentes, mas ocasionalmente interrompidos por massas de rocha fresca (não alterada por ação do intemperismo) de extensão variada, que favorecem a aplicação de técnicas de prospecção geoquímica.
Essa região, com cerca de 250 km de comprimento Norte-Sul, e cerca de 100 km de largura, apresenta uma geologia que guarda muitos aspectos semelhantes aos complexos máficos ora da África do Sul, ora do Canadá, ora da Austrália.
País carente de cobre até o fim dos anos 1970, importando 95% de suas necessidades anuais desse metal imprescindível para o programa de distribuição de eletricidade da rede de usinas hidroelétricas em construção e necessárias à industrialização do país, era natural que essa parte do Nordeste da Bahia despertasse interesse especial do ponto de vista econômico.
Até 1960, os estudos relativos à geologia da região praticamente limitaram-se a tratar dos depósitos minerais de Campo Formoso, Santa Luz, Saúde, do depósito de minério de cobre de Caraíba e ocorrências em sua vizinhança, ouro, urânio e manganês da rega da serra de Jacobina e ouro nos aluviões do rio Itapicuru.
2.2 As três etapas, ou fases, do projeto - Organizado o Laboratório de Geoquímica na Universidade da Bahia, o primeiro trabalho de prospecção geoquímica sistemático foi planejado de modo a atender o programa de desenvolvimento do estado da Bahia. Estava em discussão, na época, o eventual aproveitamento de conhecido depósito de minério de cobre em Caraíba, no semi-árido baiano, cerca de 80km a sudeste da cidade de Juazeiro, situado na margem do rio São Francisco, e entre as cidades de Jaguarari e Uauá. O trabalho seria realizado em três fases: prospecção orientativa; prospecção regional, para definição de alvos geoquímicos; e detalhamento dos alvos, que poderia ir até a etapa de sondagem. Na área do depósito de Caraíba, o DNPM fizera executar algumas perfurações, em anos anteriores, cujo resultado ainda não permitia um planejamento adequado de um programa sistemático de sondagem na região. Os dados de geologia eram escassos.
As questões a responder, com o auxilio da prospecção geoquímica, eram: (i) a eventual jazida teria expressão sub-aflorante significativa que permitisse um plano de sondagem eficiente e eficaz? Isto é, o solo residual desenvolvido sobre cada tipo de rocha subjacente teria características que permitissem associar o tipo de solo ao tipo de rocha? (ii) a jazida seria do tipo cobre pórfiro, seria associada a rochas máficas e ultramáficas, ou teria origem hidrotermal? (iii) haveria alguma relação entre a vegetação (variação no porte do vegetal, na forma de seus ramos e folhas, na cor das flores, na densidade de cobertura de folhas), o solo e a topografia com a mineralização de cobre? (iv) haveria outros corpos de minério do mesmo tipo na região ou em prolongamento da ocorrência ou depósito mineral (ainda não era jazida) já conhecida? (v) como usar a geoquímica para responder a essas questões? (vi) qual o melhor material a amostrar: solo, sedimento de corrente, se algum vegetal, qual vegetal e qual parte do vegetal? (vii) qual o intervalo de amostragem que se deveria adotar, tanto no caso de solo como dos outros materiais usados como amostra (vegetal, rochas, minerais mais resistentes ao intemperismo e presentes no solo)? Portanto, a primeira preocupação desse trabalho de prospecção geoquímica na Caraíba, Bahia, era dar-lhe um caráter eminentemente orientativo, como de praxe ocorre nos casos de área nova a desbravar.
2.3 Como o problema foi abordado. Escolha, ou definição, dos elementos químicos a analisar e outras escolhas/definições para executar o projeto.
2.3.1 Uma comparação nada ortodoxa - Pode parecer estranha a comparação, mas o leitor de romances policiais encontra, no planejamento de uma campanha de prospecção mineral, muita semelhança com o planejamento do trabalho de um detetive. Usam-se vestígios, procura-se caminho percorrido (pelos processos geológicos que originaram a jazida ou depósito e pelos “resíduos” liberados pelo depósito no solo e na drenagem que corta o depósito e suas vizinhanças, que são usados como evidências), as transformações da “cena do crime”, detalha-se a “cena do crime” e, se possível, procura-se, entre os vestígios do “corpo, e vestes”, deixados no caminho do criminoso, até mesmo o DNA deste, que no caso de prospecção geoquímica equivaleria à assinatura geoquímica do tipo de jazimento que se procura. Os trabalhos de perfuração (sondagem), para revelar o valor da descoberta, equivalem a uma autópsia do corpo delito.
2.3.2 Parâmetros a definir para o trabalho de prospecção geoquímica - Assim, além da definição ou escolha dos elementos a analisar, escolheu-se também: (i) o método analítico para cada elemento químico capaz de dar alguma indicação de mineralização e presença de depósito ou jazida mineral; (ii) o material que deveria ser analisado, se solo, sedimento fluvial, água de fonte ou de rio, parte de vegetal (raiz, folha, casca etc.) e que vegetal, capaz de acumular os elementos químicos sob investigação; (iii) profundidade de solo de onde se deveria retirar a amostra, granulometria do solo ou do sedimento a usar para que o resultado fosse coerente e desse indicação da posição do “objeto” sob investigação; (iv) em alguns casos, coleta de gás do solo ou do ar próximo ao solo, que pudesse revelar a presença do que se procurava; enfim qualquer material que pudesse dar uma idéia da presença e até do caminho que conduzisse ao processo geológico e geoquímico que originou a jazida naquele lugar onde se encontra.
Em Caraíba, o critério por traz da escolha dos elementos químicos a analisar levou em consideração a possibilidade dos elementos escolhidos lançarem luz sobre a gênese da jazida: seria hidrotermal, associação máfica/ultramáfica, ou do tipo cobre pórfiro?
Assim, foram escolhidos, como importantes para essa definição, sete elementos: níquel, cobalto, cromo, cobre, molibdênio, chumbo e zinco. O conjunto dos três primeiros (Co, Ni, Cr) indicaria mineralização associada a rochas máficas e ultramáficas. Concentrações elevadas de molibdênio indicariam jazida do tipo cobre pórfiro; e concentrações altas de chumbo e zinco indicariam mineralização de origem hidrotermal.
As relações litológicas conduziriam a uma interpretação da evolução petrológica e estrutural que teria dado origem às jazidas de Caraíba e a eventuais similares encontradas na mesma província geoquímica. Claro que, nesse intervalo de tempo geológico (as rochas eram do Precambriano), poderia ter havido superposição de eventos e processos, mas uma associação Cobre/Molibdênio daria substância à hipótese de cobre pórfiro. Isso abriria a possibilidade de encontrar uma província de imenso potencial econômico. Logo, valia a pena tentar a aplicação da geoquímica.
Havia ainda quatro outras perguntas a responder: 1. Qual a profundidade de amostragem que daria o contraste mais acentuado entre as concentrações de cada elemento analisado? 2. Qual a granulometria ideal que deveria ser separada e analisada capaz de produzir contraste acentuado entre os valores analíticos obtidos? 3. Qual o intervalo de amostragem, no caso de solo? (considerando a extensão esperada do corpo sub-aflorante do minério, cerca de dois mil metros por quinhentos metros de largura, seria recomendável usar intervalo de amostragem em malha de 50 por 100 metros, abrangendo, porém uma porção (extensão) substancial das rochas encaixantes do corpo de minério). 4. Qual o método analítico a usar para cada um dos elementos escolhidos para análise (Ni, Co, Cr, Cu, Mo, Pb, Zn)?
2.3.3 Aplicação da geoquímica à complementação de mapeamento geológico - Na aplicação dessa metodologia descrita, à prospecção geoquímica regional, em área de grande variedade de rochas ígneas e submetidas a intenso metamorfismo regional, que modificou forma e composição mineral das rochas, como é o caso da maior parte do semi-árido do Nordeste do Brasil, mostrou que a prospecção geoquímica por amostragem de solo é útil para complementar campanhas de mapeamento geológico nesse ambiente de extremamente variada litologia, pois cada uma das rochas tem sua “assinatura geoquímica” própria.
(Continua no próximo Capítulo)
Sylvio de Queirós Mattoso
Salvador, BA, 02 de setembro de 2009
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