quinta-feira, 3 de março de 2011

Províncias geoquímicas - verdade ou mito ?

Há alguns anos iniciou-se uma discussão sobre a verdadeira origem de anomalias geoquímicas de grandes dimensões (large scale patterns) que foram e ainda estão sendo identificadas em diversas regiões do mundo. Essas estruturas e padrões geoquímicos de dimensões continentais surgem do tratamento e cartografia dos dados obtidos com levantamentos regionais de baixa densidade, como os executados em toda Europa, na China, Canadá, Estados Unidos, em alguns países da Africa, América do Sul e em alguns estados do Brasil como Paraná, Rio de Janeiro e a região nordeste.
Essa discussão começou com a publicação de Clemens Reimann and Victor Melezhik (Metallogenic provinces, geochemical provinces and regional geology — what causes large-scale patterns in low density geochemical maps of the C-horizon of podzols in Arctic Europe? Applied Geochemistry, Volume 16, Issues 7-8, June 2001, Pages 963-983). Eles observaram que os mapas geoquímicos produzidos com amostras muito dispersas (1 estação de amostragem a cada 300 km2) ficaram evidenciados claros padrões regionais de distribuição.  Algumas dessas feições refletiam contatos litológicos, outras indicavam lineamentos e estruturas inexistentes nos mapas geológicos, outras mercavam eventos hidrotermais e alterações de grandes dimensões, e finalmente outros estavam relacionados a depósitos minerais. No entanto, alguns grandes depósitos mienrais e mesmo famosas províncias metalogênicas ficavam muito sutilmente ou não apareciam nesses mapas geoquímicos. Dessa maneira os autores contestaram o conceito de província geoquímica, por considerá-lo muito impreciso e sem qualquer ajuste as províncias metalogênicas.
Reimann foi depois disso radicalizando essa opinião.
No entanto, diversos autores como Bolviken e Xie Xuejing já haviam estabelecido uma nomenclatura dependente da escala e da intensidade dos teores para os padrões de distribuição de elementos isolados ou associações, desde anomalias locais até padrões continentais.
É evidente que províncias geoquímicas não têm a mesma configuração que províncias metalogênicas.  Uma província geoquímica diz respeito à distribuição da abundância de elementos isolados ou associados e a província metalogênica diz respeito aos processos mineralizadores.
É claro que os processos de mobilização e de dispersão dos elementos assim como as suas fontes, são bastante diferentes e por esse motivo não pode haver uma concordância quanto a configuração e abrangência dos dois tipos. É o mesmo que ocorre quando se compara um mapa geoquímico com um mapa geológico ou com um mapa geofísico. Será muito normal se alguém não encontrar grandes concordâncias entre os limites de unidades geológicas com as anomalias geoquímicas ou entre anomalias e estruturas geofisicas com as estruturas e anomalias geoquímicas. Processos diferentes ou técnicas de medida diferentes, geram produtos diferentes.

Um comentário:

  1. Prezado Otávio, com o andamento do nosso projeto de mapeamento geoquímico no Quadrilátero Ferrífero fica impossível não notar a "coincidência" entre os mapas geológicos, geoquímicos e geofísicos existentes para a região. Os limites entre as unidades em cada um deles não é exatamente coincidente. Como você bem frisou, as ferramentas utilizadas para elaboração de cada um deles são distintas, observam fenômenos diferentes, e não fornecem exatamente o mesmo resultado. O que para mim é inegável, observando os mapas geoquímicos, geofísicos e geológicos, é que processos geológicos governam a distribuição dos elementos químicos e ela se reflete na composição das rochas, na presença de depósitos minerais, feições geofísicas etc.

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