sábado, 12 de março de 2011

Plantas hiperacumuladoras de metais

Viktor Moritz Goldschmidt, um dos grandes geoquímicos, começou a pesquisar a acumulação de metais em tecidos e orgãos dos vegetais, com  interesse despertado pelos elevados teores de Ge que encontrava nos carvões. Estabeleceu por fim a importância do ciclo de vida dos vegetais na acumulalção de metais e abriu caminho para estudos de fitogeoquimica e de fisiologia vegetal.

A biogeoquímica tornou-se uma das técnicas de exploração geoquímica, infelizmente pouco utilizadas em levantamentos sistemáticos ou em escala regional. Usa a capacidade que algumas espécies vegetais têm de acumular certos metais em alguns orgãos especificos para identificar as concentrações endêmicas desses vegetais e as possíveis relações de causa-e-efeito com a presença de depósitos minerais. Além dessas aplicações em prospecção, essa capacidade tem aplicação em outras áreas como a bio-remediação de áreas contaminadas.

Na Zâmbia e Zimbabwe, o Becium centraliafricanum é encontrada apenas em solos que contêm mais de 1.000 mg/kg Cu e pode acumular mais que 3.000 mg/kg Cu nas folhas (mg/kg = ppm). É relatada com frequência nas rochas ultramáficas do Great Dyke do Zimbabwe (onde os solos são ricos em Cu e Ni) e sua presença é responsável pela descoberta de depósitos de cobre.

No Platô do Colorado, espécies do gênero Astragalus, são indicadoras de mineralizações Se-U. Podem acumular até 15.000 ppm Se e por isso, exalam inconfundível cheiro de alho, são extremamente tóxicas a ponto de poder matar pequenos animais por envenenamento. Na foto ao lado o Astragalus mohaviensis do Deserto de Mohave.



No Rio Grande do Sul, foram encontradas acumulações de metais em tecidos vegetais de espécies endêmicas em solos ultramáficos, na forma de concreções e nódulos sub-microscópicos nas células. Na imagem ao lado de Cunha et al,  uma concreção de Au em um corte transversal do raquis da Scutia buxifolia (Coronilha).



Porém, parece que o caso mais espetacular é o da  Sebertia acuminata, uma planta hiperacumuladora de Ni, endêmica dos solos serpentiníticos da Nova Caledônia. Os teores de Ni na seiva seca atingem inacreditáveis 25,74% Ni, e as folhas contém até 11.700 ppm de Ni em base seca. São os mais altos teores do metal encontrados em qualquer ser vivo. As concentrações de Ni são tão elevadas que a seiva tem uma coloração verde-jade, como se vê na foto ao lado de David E. Salt.


Para saber mais:
- Duvign. & Plancke. 1973. Copper-induced chlorosis in Becium Homblei (De Wild). Plant and soil. Springer Publ. Netherlands. v38, n3,
- Brummer J.J.1; Woodward G.D.  A history of the `Zambian copper flower', Becium centraliafricanum (B. homblei). Journal of Geoch. Exploration, v. 65, n. 2, March 1999  pp. 133-140(8)
- Cunha, M.C.L e, Mariath,J.E. de A.,Menegotto,E., Formoso, M.L.L. Diagnose de microbiólitos metálicos em espécies vegetais endêmicas em solos de rochas ultramáficas por microscopia eletrônica de varredura. Pesquisas em Geociências 31(1): 17-28. 2004
 - T. Jaffré, R. R. Brooks, J. Lee and R. D. Reeves. Sebertia acuminata: A Hyperaccumulator of Nickel from New Caledonia. Science 13 August 1976:Vol. 193 no. 4253 pp. 579-580 http://www.sciencemag.org/content/193/4253/579.abstract
- David E. Salt. From Meals to Metals and Back. Center for Plant Environmental Stress Physiology, Purdue University. http://4e.plantphys.net/article.php?ch=&id=84

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