terça-feira, 15 de setembro de 2009

Série "Memórias Geoquímicas" - Conhecer e respeitar o passado para entender o presente e planejar o futuro

Continuação do Capítulo 3 postado em 11/9/2009

Capítulo 4 - Segunda fase do projeto: argumentos usados na decisão final pela execução de projetos de prospecção geoquímica como parte integrante dos programas de prospecção mineral na Bahia

A prospecção geoquímica vinha sendo aplicada com amplo sucesso na Rússia, na Escandinávia, no Canadá e na África do Sul. Seria aplicável no Brasil? De que maneira nosso clima, topografia, litologia, cobertura vegetal etc. se combinam para torná-la viável e significativa em nosso país?

Amostras de solo tomadas nas vizinhanças da cidade do Salvador, Bahia, por Richard W. Lewis e sua equipe do Laboratório de Geoquímica, mostraram uma variação grande na concentração de vários elementos químicos usualmente usados em prospecção geoquímica, sugerindo contrastes suficientemente acentuados para indicar eventuais ou possíveis anomalias geoquímicas atribuíveis à presença de jazidas minerais.

Um trabalho preliminar com a tomada de amostras de solos com distribuição segundo padrão radial, em Caraíba, mostraram variações de teor ainda mais acentuadas entre os solos da área sobre a jazida e a vizinhança admitida como estéril, do que na região de Salvador, o que fez aumentar a esperança de sucesso da aplicação do método geoquímico de prospecção mineral na região, confirmado posteriormente pelos resultados encontrados. A possibilidade de descobrir outros jazimentos que aumentassem o potencial cuprífero da região, com o uso da geoquímica, era muito forte.

O exame da drenagem, feito em fotos aéreas na escala de 1:250.000, sugeriu que a jazida de Caraíba estava próxima do eixo de uma grande estrutura anticlinal com inclinação, plunge, para o norte. Imaginou-se então que a Anticlinal identificada constituiria um indicador favorável à existência de outros corpos cupríferos e, portanto, parecia justificado supor que se estivesse diante de uma província metalífera com concentrações anormais de cobre.

Se isso fosse correto, fortaleceria a execução de um estudo orientativo capaz de dar indicações sobre:

- O material a ser coletado como amostra

- A posição (profundidade, se fosse solo) de onde retirar a amostra para preparação e análise

- A densidade (espaçamento) das amostras nas fases orientativa que definiriam a densidade de amostragem num programa regional

- Os elementos químicos que deveriam ser analisados e que dariam indicação sobre a gênese da jazida, já na fase de prospecção orientativa

- O método analítico que se deveria adotar nas determinações de laboratório, tendo em vista, custo, rapidez, precisão dos resultados.

4.1 RESULTADOS DA ETAPA DE PROSPECÇÃO GEOQUÍMICA ORIENTATIVA E CONCLUSÕES POSSÍVEIS

Enfatizando:

A aplicabilidade da prospecção geoquímica foi definida como exeqüível após uma amostragem aleatória de solos e na região de Salvador (tropical úmido) e em Caraíba (tropical semi-árido). O estudo geoquímico em Caraíba, conduzido por R.W. Lewis, em 1961, constou de amostragem de solos, vegetais e sedimento de corrente (sedimentos fluviais coletados no leito da drenagem) cujos resultados foram publicados em 1964 e 1966. 10

a) Na prospecção orientativa, a associação de cobre, com níquel, cromo e cobalto indicava ambiente máfico/ultramáfico para a jazida de Caraíba. Se essa mesma associação fosse encontrada em outros locais mostrando, em adição, configurações semelhantes quanto à distribuição das isopletas desses elementos químicos, se ainda o solo local fosse do mesmo tipo encontrado em Caraíba, a área poderia ser considerada um alvo geoquímico importante para estudo adicional;

b) Embora zinco e molibdênio apresentassem configurações semelhantes aos de Cu, Cr, Ni e Co, suas concentrações eram demasiado fracas para justificar a aceitação da hipótese de jazida do tipo cobre pórfiro;

c) A distribuição de chumbo no solo não apresentou nenhuma correlação com a distribuição do cobre e por ter apresentado concentrações extremamente baixas permitiu que se descartasse de imediato a hipótese hidrotermal para a jazida de cobre de Caraíba, o que se confirmou em todos os alvos geoquímicos testados mais tarde.

d) Planejou-se analisar sistematicamente ouro, selênio, arsênio e antimônio, o que não foi feito, considerando, entre muitas outras razões, que as conclusões já aceitas eram satisfatórias e não necessitavam de apoio adicional;

e) A análise de mercúrio foi descartada considerando o alto grau de metamorfismo a que havia sido submetida a região, que criava um ambiente em que qualquer eventual mercúrio presente seria expulso para longe;

f) Como as configurações da distribuição de cobre, níquel, cromo e cobalto eram semelhantes e superpostas -- com as configurações de zinco e molibdênio deslocadas (inclusive porque sua mobilidade no ambiente secundário diferia dos outros elementos analisados) -- concluiu-se que, no levantamento regional, por uma questão de custo e rapidez, bastaria que se determinassem as concentrações de Cu ocasionalmente complementadas pela determinação de Cr, Ni e Co para confirmação;

g) As isopletas de 1.000 ppm (mil partes por milhão) de cobre coincidiram com o perímetro sub-aflorante da jazida de Caraíba e valores intermediários até 100 ppm (cem partes por milhão) foram encontrados até 800 metros distante do limite do corpo da jazida; esse dado indicava que, na prospecção regional, aas amostras solo deveriam ser coletadas nos nós de malha retangular com intervalo de mil metros na direção norte-sul, e 500 metros na direção leste-oeste;

h) A profundidade que apresentou o melhor contraste entre as concentrações dos elementos no solo, na fase de prospecção orientativa, situou-se entre 5 e 25 cm e deveria ser adotada em prospecção regional na região do vale do rio Curaçá. Coincidentemente é a profundidade que permite executar a amostragem com maior rapidez.

4.2 Outras revelações do estudo orientativo

4.2.1 Valor de anomalia na região - A variação das concentrações dos elementos no solo sugeriu que se definisse como anomalia toda concentração de cobre no solo superior a 100ppm. A curva isopleta de 1.000 ppm de cobre praticamente coincidiu com a parte sub-aflorante da jazida de Caraíba, caracterizada por solo bastante argiloso de cor castanha bem distinto dos solos arenosos de cor branca a amarelada dos solos desenvolvidos sobre os gnaisses e granitos da área. Também os valores anômalos de cromo, cobalto e níquel associadas aos valores anômalos de cobre, além de indicar mineralização máfica/ultramáfica, coincidiam com o corpo sub-aflorante da jazida de minério de cobre de Caraíba. O encontro de panoramas semelhantes poderia significar ou jazida sub-aflorante ou vazamento produzido por água subterrânea ao longo de superfícies de falha que atravessassem corpos máficos em profundidade e que poderiam ser revelados/confirmados por prospecção geofísica.

4.2.2 Revelação inédita - Nas fotografias aéreas, esses solos associados às rochas máficas e ultramáficas ficavam bem distintos e foram selecionados, mais tarde, como alvos para detalhamento e posteriormente outros foram investigados em trabalho nas áreas requeridas para pesquisa pela Caraíba Metais. Vários desses alvos foram objeto de sondagem rotativa e revelaram a presença de máficas mineralizadas com cobre e platina em profundidade. É a primeira vez que esta informação, sobre a presença de minerais de cobre nos alvos geoquímicos revelados em trabalho para a Caraíba Metais, está sendo revelada em público. Essa informação poderá, no futuro, estimular o retorno a uma importante fase de pesquisa mineral e de mineração de cobre na região.

4.2.3 Método geofísico que se revelou recomendável para aplicar na região cuprífera da Bahia e confirmar presença de corpo máfico mineralizado nos alvos geoquímicos definidos na prospecção regional

Somente depois dessa fase se poderia partir para um programa de prospecção geofísica (elétrica, magnética ou gravimétrica) que exige maiores investimentos que a geoquímica. Mais tarde, pensando na interferência da eventual presença de grafita, cuja presença foi verificada nas rochas da região, os levantamentos eletro geofísicos foram descartados como uma etapa de trabalho de confirmação da mineralização de cobre, antes de passar para a etapa de sondagem rotativa com testemunho de sondagem. Como a presença de magnetita, ilmenita e outros minerais ferromagnéticos poderiam estar associados a qualquer tipo de rocha na região e interferir na interpretação dos resultados geofísicos de magnetometria, sugeriu-se que o tipo de levantamento geofísico mais apropriado para a região para distinguir entre rocha máfica mineralizada com cobre e demais tipos de rocha, seria o gravimétrico.

A gravimetria despontava como o método mais adequado de prospecção geofísica na região, por ser capaz de melhor distinguir corpos máficos e ultramáficos com piritas e calcopiritas, mais densos que as rochas silico-aluminosas encaixantes e predominantes na região. Essa orientação foi adotada por volta de 1972 quando o geofísico Antonio Carlos Motta, a pedido nosso, quando trabalhando para a Caraíba Metais, fez um levantamento gravimétrico sobre uma anomalia geoquímica revelada no levantamento regional. Nessa anomalia, foi detectado, em profundidade de cerca de cinqüenta metros, um corpo mais denso que as rochas adjacentes a ele, e que, após furo de sonda, revelou ser de composição máfica com minerais sulfetados de cobre e mais de 1,5% desse metal, além de prata e platina. Assim, justificava-se o uso de gravimetria na complementação da prospecção geoquímica, aplicada sobre as anomalias reveladas na campanha de geoquímica regional.

(Continua no próximo Capítulo)

Sylvio de Queirós Mattoso

Salvador, BA, 02 de setembro de 2009

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