terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Terminou 2009 !

Estamos em franca recuperação de uma crise financeira que assolou o planeta e que foi particularmente cruel com a indústria mineral em todos os seus estágios e ramos de atuação. Ações despencaram, empresas júnior fecharam, grandes empresas revisaram seus orçamentos, inúmeros profissionais experientes foram dispensados e tudo mais de ruim que poderia sair da caixa de maldades de uma crise desse porte. Foi um ano de angústias e sofrimentos que esperamos estar chegando ao fim.
Felizmente agora já podemos aplicar colheradas de bom humor usando por exemplo a genial frase de Apolinário Torelly, o nobre Barão de Itararé que usou os bondes como objeto de metáfora "Na vida tudo é passageiro, menos o motorneiro e o cobrador."
A perspectiva para o próximo ano é muito boa, com uma retomada dos investimentos em exploração, empurrada por uma crescente demanda por commodities minerais nem que seja por inércia, de uma economia chinesa que vai de 6 a 7 % de crescimento ao ano.
Desejo a todos os leitores do blog, frequentes ou eventuais, um excelente 2010 com muitas atividades, lazer, paz, saúde, exercício de inteligência e criatividade para superar os obstáculos, pois se não fossem esses, a vida não teria a mínima graça.
Esse blog teve uma média de 28 acessos/dia e, no final de dezembro deve totalizar 4.000 acessos de 32 países o que, é claro me deixa feliz e com uma sensação de sucesso alcançado.
Tentarei retornar em 2010 com esse espírito, postando matérias, algumas com arcabouço técnico e outras  variadas e leves, mas sempre tentando colocar algumas reflexões sobre esse tema apaixonante que é a aplicação da geoquímica à exploração mineral.
Um grande abraço a todos e vamos abrir a champanhe !

Da longa e interminável série "Geoquímica, geoquímica, quantas bobagens se cometem em teu nome..."

Atualmente estou montando uma base de dados litogeoquímicos da Formação Serra Geral (cerca de 1.000.000 k2 e 1.600 m de espessura de basaltos, andesitos, dacitos e riolitos). Estão reunidas cerca de 4.300 amostras coletadas em superfície e em poços e compiladas de dezenas de dissertações, teses, artigos ou recebidas em tabelas de dados enviadas por seus autores do Brasil e do exterior.
Nessa pesquisa, descobri na internet um resumo de congresso, apresentado por um grupo de pesquisadores da área de química. Coletaram amostras de pó de basalto e as analisaram  por fluorescência de Raios X, para estudar os impactos ambientais da aplicação desse produto na agricultura, o que em si só já é questionável, pois o teor dos elementos por fluorescência de raios X é total e não biodisponível, e mais ainda que foram analisados apenas os óxidos.
Mas voltando ao tema principal, a tabela de resultados apresentada no dito resumo mostra que as duas amostras analisadas teriam mais de 40% Fe2O3 total e cerca de 21 % SiO2. Espantado com esses resultados, enviei uma mensagem ao primeiro autor, alertando-o para o evidente erro. A resposta veio dois dias depois, me informando que todos os resultados havia sido revistos, que realmente o Fe2O3 tinha valores mais altos que SiO2 e que todos os resultados estavam corretos. Como sou insistente - ou melhor, muito chato - escrevi nova mensagem alertando que esses resultados de SiO2 estavam evidentemente errados e que se por absurdo estivessem corretos, só isso seria motivo de um artigo em periódico científico internacional de qualidade A, pois pela primeira vez rochas ultrabásicas teriam sido encontradas à superfície na Formação Serra Geral, menos silicosas até que dunitos e peridotitos. Nova resposta me informou que realmente as rochas analisadas eram básicas pois os solos tinham pH = 8,03. Não resisti a tamanha barbaridade e enviei uma nova mensagem, um pouco mais ríspida, esclarecendo ao nobre discípulo de Schonbeim que as rochas são básicas ou ácidas pelo seu conteúdo em SiO2 (um óxido ácido) e não pelo valor do seu pH. Estupefato, "enfiei a viola no saco" pensando qual seria o próximo capítulo dessa longa e interminável série "Geoquímica, geoquímica, quantas bobagens se cometem em teu nome..."

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Exploração geoquímica x agricultura

Respondo a uma pergunta de um leitor do blog.

"Meu caro, estou com a segunte dúvida:  se minha malha de amostragem de solo cruzar área de lavoura (plantio de soja, milho e etc.) devo coletar as amostras ? Em outras empresas éramos (os técnicos) aconselhados a não coletar. Você tem alguma sugestão?"

Essa dúvida, tem uma resposta que eu não gosto, mas que frequentemente precisa ser usada : Depende !

Se for uma lavoura recente (1° plantio) em uma área remota, sem aplicação de pesticidas e/ou fertilizantes e/ou corretivos me parece que, em princípio não há problema. porém é necessário que o técnico amostrador registre na caderneta de campo, a situação de cada amostra coletada.
Se estivermos buscando ouro ou diamante, com contagem de pintas ou descrição mineralógica em concentrados de bateia, também não me parece haver grandes problemas, exceto que os horizontes superiores do solo serão revolvidos e destruídos pelos equipamentos agrícolas como o arado de discos.
A questão dos corretivos agrícolas é muito séria, pois a legislação exige deles apenas uma breve caracterização quanto a teor de CaO, MgO, residuo insolúvel (SiO2), granulometria e poder de neutralização - PRNT. Os elementos menores e traço não são analisados pois não são exigidos pela norma legal.
Corretivos agrícolas que são produzidos a partir de margas e calcários com muita matéria orgânica, são naturalmente enriquecidos em diversos metais usados na exploração mineral como indicadores e farejadores de depositos minerais, como Pb, Cu, Cd etc.. O problema se amplifica quando tratamos de fertilizantes produzidos a partir de fosforitas.
Uma vez, entrei casualmente numa loja de produtos agrícolas e examinei a formulação/composição química  impressa na embalagem de um fertilizante. Encontrei 6% N; 16% P; 16% K; 2% Mg; mas também 4,2% S; 0,15% B; 0,5% Zn (5.000 ppm Zn); 0,05% Cu (500 ppm Cu); 0,3% Mn (3.000 ppm Mn); 0,01% Mo (100 ppm Mo) e 0,0023% Co (23 ppm Co). Imagine o estrago que um produto com essa formulação produz num levantamento geoquímico. A aplicação desse produto numa lavoura acarreta uma contaminação ambiental severa pois nem todos os metais serão absorvidos pelos vegetais, e o resíduo será transportado para a rede hidrográfica ou se acumulará no solo. Isso produzirá uma grande elevação dos teores de fundo (background) desses metais, produzindo anomalias não significativas - não associadas a depósitos minerais.
Ess é um dos motivos da minha defesa da reanálise de amostras coletadas há muitos anos e guardadas com cuidado (veja uma das primeiras matérias do blog que trata desse assunto), pois elas refletem as condições ambientais anteriores à enorme expansão da atividade agrícola e a maciça aplicação de pesticidas, fertilizantes e corretivos, especialmente em regiões que naquela época eram remotas. Nas prateleiras desses arquivos de amostras, o ambiente de 30 anos atrás está virtualmente "congelado".

domingo, 6 de dezembro de 2009

As minas do Brasil e sua legislação

A Coleção Brasiliana foi editada originalmente pela Companhia Editora Nacional no período de 1931 a 1993, reunindo 415 volumes de autores brasileiros e estrangeiros que retrataram o país nos campos da História, Sociologia, Antropologia e História Natural, entre muitos outros. Agora, o projeto Brasiliana Eletrônica apresenta a versão digitalizada da Coleção Brasiliana. As obras foram revisadas, sua ortografia atualizada, e são acompanhadas de apresentações críticas e biografias dos autores, preparadas por grandes especialistas acadêmicos. Esse trabalho tem o apoio da FAPERJ, FINEP, UFRJ, Fundação Universitária José Bonifácio e Ministério da Educação

Dentre as obras disponíveis estão:
As minas do Brasil e sua legislação, escrita em 1938 pelo político e historiador Pandiá Calógeras, quando exercia o mandato de deputado federal por Minas Gerais, no início do século XX. Publicada em três volumes, o terceiro deles, denominado “Geologia econômica”, aborda a distribuição geográfica dos depósitos auríferos no território brasileiro, tendo sido o texto revisto e atualizado pelo geólogo Djalma Guimarães.
História das explorações científicas no Brasil (1941) escrito por Cândido de Melo Leitão e na Parte 1 descreve a história da exploração da costa,  as fronteiras, os rios e o planalto, o solo e suas riquezas e na Parte 2, expedições botânicas, zoologicas e entomológicas.

Recomendada para quem se interessa por história ou descobrir alvos exploratórios antigos e abandonados, o acesso a esses livros é muito simples http://brasiliana.com.br/