terça-feira, 14 de junho de 2011

SAFOD

O Scientific Drilling, periódico do IODP( Integrated Ocean Drilling Program), na edição  n°11 de Março de 2011, traz uma matéria espetacular Scientific Drilling into the San Andreas Fault Zone – an Overview of SAFOD’s First Five Years que relata as atividades do San Andreas Fault Observation at Depth (SAFOD). O objetivo do projeto é o estudo das propriedades e respostas geofísicas, geoquímicas e a observação direta da Falha San Andreas e os processos que controlam o falhamento e a geração de terremotos ao longo de um plano de falha ativa e limitante de uma placa, em profundidade. 
Parkfield, California é a base do SAFOD e por isso é onde está a base do equipamento de sondagem responsável pela perfuração de um poço com desvio direcionado para atingir a falha. Iniciou com um poço piloto vertical com sonda Rotary de coroa de 22,2 cm e diâmetro de revestimento de 17,8 cm que terminou aos 2.200 metros. Após terem sido feitas todas as medições, o poço piloto foi usado para um registro de microterremotos naturais e para o imageamento de megaestruturas vizinhas à falha de San Andreas.  
A perfuração definitiva inicialmente vertical foi realizada em três etapas – verões de 2004 e 2005 e 2007 - e a aproximadamente 1.500 metros foi desviada em 60° em direção à falha para intersectá-la nas vizinhanças de uma região onde ocorriam freqüentes terremotos. Levantamentos geofísicos haviam definido que na profundidade de intersecção, a falha teria cerca de 200 metros de espessura com diversas zonas bem definidas de 2-3 metros, o que se confirmou. O movimento ao longo de duas zonas situadas a 3192 e a 3302 metros (medidos ao longo do poço) foram responsáveis pela deformação do revestimento e da cimentação.
A instalação do SAFOD foi completada em 28 de setembro de 2008 com cinco estojos com diversos tipos de sensores geofísicos como sismômetros, acelerômetros e eletromagnéticos. Em diversas profundidades foram coletados testemunhos (figura ao lado) que agora estão sendo estudados por diversos laboratórios em todo o mundo.

Para saber mais: http://iodp.org/

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Novos softwares adicionados

Adicionei novos links para softwares.
Um grupo direcionado para cálculos e modelagens fisicas e químicas de rochas ígneas. Todos estão na página de Ken(neth) Wohletz, do Laboratório Nacional de Los Alamos e que está entre os mais importantes vulcanólogos da atualidade.
Também adicionei um link para a versão 2.0 do PHREEQC, o mais famoso e utilizado software para modelagem hidrogeoquímica. Produzido pela equipe do USGS é voltado à especiação, modelagem de transporte e diversos cálculos e gráficos geoquímicos.
Finalmente o R Project, um pacote  para computação estatística e gráfica desenvolvido com o conceito de software livre. A versão é de 13 de abril de 2011.
Veja na coluna à direita desse blog em Softwares para geoquímicos

sábado, 11 de junho de 2011

A caixa de ferramentas está aberta !

Não é comum encontrar artigos em periódicos científicos cujos autores são geólogos de empresas de exploração. Os achados são compreensivelmente guardados a sete chaves já que são vantagens evidentes na corrida entre empresas concorrentes. Por isso, o artigo Beyond the Obvious Limits of Ore Deposits: The Use of Mineralogical, Geochemical, and Biological Features for the Remote Detection of Mineralization escrito por David L. Kelley1 , Karen D. Kelley2, William B. Coker3, Brenda Caughlin4 and Mary E. Doherty5 (1 Newmont Mining Corporation, 2 U. S. Geological Survey, 3 BHP Billiton World Exploration Inc., 4 ALS Chemex) é motivo de espanto. O espanto não é criado apenas pela composição e afiliação  do grupo de autores, mas pela revisão moderna de técnicas que têm sido desacreditadas, pouquíssimo testadas e utilizadas ou então aplicadas de maneira equivocada pelas empresas de exploração que centram seus trabalhos de seleção de alvos com base em modelos exploratórios centrados no panorama geológico ou então na aplicação extensiva de técnicas geofísicas.
Mesmo que esse artigo tenha cerca de 5 anos (Economic Geology, June 2006; v. 101; no. 4; p. 729-752)  continua atualíssimo pois examina os padrões primários e secundários de dispersão de depósitos minerais que se refletem e são capazes de serem detectados por técnicas de amostragem e análise geoquímica, biológica e mineralógica.

Alguns temas examinados são :
- a geoquímica da apatita para distinguir rochas intrusivas favoráveis a mineralizações IOCG (Iron Oxide Copper Gold); 
- a mineralogia de resistatos para identificar depósitos do tipo VMS (Volcanogenic Massive Sulfide);
- a geoquímica da pirita como vetor de mineralizações do tipo SEDEX (Sedimentary Exalative);
- a concentração de halogênios (Cl, Br e I) na identificação de centros mineralizados;
- as diferenças na composição isotópica (S, O, C) entre intrusões e encaixantes estéreis das férteis;
- a cristalinidade da ilita e a termocronologia da apatita e do zircão valiosos especialmente para depósitos com história terma de baixa temperatura;
- gradientes redox encontrados entre porções oxidadas e reduzidas associadas com depósitos de sulfetos;
- variações no pH, potencial de oxidação-redução e potencial espontâneo na cobertura de depósitos de ouro sulfetado e VMS;
- as diversas espécies de gases aprisionados nos poros do solo (O2, O2, Hg, Rn, He, compostos de S e hidrocarbonetos leves) que têm sido encontrados sobre depósitos de vários tipos de depósitos minerais;
- o enriquecimento geoquímico nos materiais biológicos, especialmente vegetais, e nos solos é bem reconhecido mas pouco se sabe sobre o papel dos micro-organismos;
- microorganismos acentuam a cinética da oxidação dos sulfetos e a redistribuição secundária dos metais ao redor de depósitos minerais;
- a presença de cepas de bactérias resistentes a teores elevados de metais pode sugerir a presença de depósitos minerais não aflorantes ou profundos.

 A relação de possibilidades é muito grande e com diferentes níveis de especialização e sofisticação tecnológica, o que mostra de maneira clara que há muita pesquisa pela frente para acrescentar alternativas à caixa de ferramentas da exploração mineral

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Puyehue e suas cinzas

A precipitação dos particulados do Puyehue começou nos três estados do sul do Brasil na madrugada de quinta feira (9/6/2011) e deve terminar em poucos dias.
Hoje de manhã, recebi um telefonema do Cassio Silva da CPRM solicitando a colaboração para a coleta de amostras das cinzas do Puyehue no Paraná.
A idéia inicial era de uma análise quimica multielementar para caracterizar possíveis riscos à saude da população. Sugeri que também fosse feita uma caracterização das particulas (morfoscopia e dimensões) com imagens de microscopia eletrônica de varredura SEM.
Para quem gostaria de participar dessa rede expedita de amostragem, vou repetir as recomendações para padronizar os procedimentos que são muito simples. Infelizmente o evento explosivo não avisou que iria acontecer e assim não foi possível preparar uma metodologia nem montar uma rede adequadas para a coleta dos particulados, mas temos que aproveitar essa oportunidade.
Essa é a mensagem do Cássio:

"O SGB/CPRM esta tentando coletar amostras das cinzas vulcânicas emanadas pelo vulcão chileno Puyehue para serem analisadas principalmente para o metais pesados.
Segundo noticiário da imprensa brasileira que já estão atingindo os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, podendo ainda chegar no Paraná.
Em geral as cinzas vulcânicas carregam uma grande quantidade de particulas contendo inumeros elementos químicos, alguns saudaveis (P, K..)e outros nocivos (Pb, Hg, As..) a saúde ambiental.
Não sabemos por quanto tempo essas cinzas estarão caindo, assim aqueles pesquisadores que puderem ter acesso ou coletar esse material, poderão envia-lo para uma das unidades da CPRM que providenciaremos a análise. (...)
Podem me contactar nos tels: 21.22956147/25433308
Abraços
Cassio
SGB/CPRM-RJ "

Esta é a metodologia para a coleta das amostras:
Máxima higiene do material: bacia limpa e lavada assim como as mãos e recipiente final.
Se for possível usar água destilada. Se não for possível, usar água de torneira mesmo.
Usar uma bacia de plástico com abertura grande de uns 40-60 cm.
Deixar a bacia exposta por uma semana, em local aberto mas protegido do vento, para evitar a perda do material depositado.
Escolher um local protegido de eventuais ações antrópicas como chaminés de indústrias e ruas ou estradas não pavimentadas.
Se chover, não proteger a bacia, pois muito material particulado será depositado junto com a chuva
Para a coleta do material retido na bacia, usar um pouco de água e o dedo bem limpo, fazendo o material escorrer para um saco plástico limpo ou frasco de vidro limpo.
Fechar bem e enviar para a CPRM conforme as indicações do Cássio, não esquecendo de enviar junto com a amostra, as informações da localização e das condições locais como pluviosidade no período, diâmetro da abertura da bacia e por quanto tempo ela ficou exposta.
A amostra não deve ser seca ao forno ou ao sol para evitar perdas de componentes voláteis. Ela será secada em condições controladas de laboratório

Hoje à noite já coloquei duas bacias numa parte protegida do telhado de minha casa e espero que outros colegas façam o mesmo, colaborando com esse projeto do Serviço Geológico do Brasil.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sismólogos serão julgados por genocídio !

Sete cientistas e técnicos que analisavam a atividade sismica antes do devastador terremoto de l'Aquila de 6 de abril de 2009 serão levados a julgamento pelo Juiz Giuseppe Gargarella. Ele considerou que o caso merece ir a julgamento porque não teriam avisado a população do risco iminente que acabou matando 308 pessoas.
Apesar dos protestos de centenas de cientistas e associações científicas do mundo inteiro o juiz vai iniciar o processo.

Matéria da Folha de São Paulo de 6/4/2009, mostrava que os cientistas haviam previsto e teriam alertado a Defesa Civil:
O pesquisador Giampaolo Giuliani, do Laboratório Nacional de Gran Sasso, alertou às autoridades há algumas semanas que um grande terremoto atingiria a região italiana de Abruzzo no último dia 29 de março. O chefe da Proteção Civil, Guido Bertolaso, rejeitou o alerta e criticou "aqueles que se divertem divulgando notícias falsas". A informação foi publicada pelo jornal italiano "Corriere della Sera", nesta segunda-feira, horas após um tremor de 6,3 graus na escala Richter atingir a região e deixar ao menos 50 mortos.
Segundo a publicação, Giuliani foi denunciado por alarme falso e Bertolaso reiterou que "todos sabem que não se pode prever terremotos".
"Não é verdade, nós o previmos", rebateu Giuliani, após a confirmação do terremoto que atingiu Áquila às 3h32 desta segunda-feira --22h32 deste domingo (5) no horário de Brasília. "É possível que me punam amanhã, mas eu confirmo, não é verdade. É falso que não se pode prever terremotos", completou. Giuliani afirmou ao jornal, nesta segunda-feira, que os pesquisadores do laboratório trabalham há dez anos para prever eventos como terremotos desta escala que devem acontecer a uma distância de 100 quilômetros a 150 quilômetros do centro.
"Há três dias, vimos um forte aumento no nível de radônio [um gás radioativo derivado do urânio no solo], de fora da região de segurança. E este aumento significa um forte terremoto", disse o pesquisador. "[O terremoto] podia ser visto [na madrugada desta segunda-feira] se alguém tivesse ido trabalhar ou estivesse preocupado."

Fontes: http://www.sciencemag.org/content/332/6034/1135.summary?sid=fbd4799b-aef2-4998-b71c-3bfa304623ee
           http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u546498.shtml