segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Exploração geoquímica x agricultura

Respondo a uma pergunta de um leitor do blog.

"Meu caro, estou com a segunte dúvida:  se minha malha de amostragem de solo cruzar área de lavoura (plantio de soja, milho e etc.) devo coletar as amostras ? Em outras empresas éramos (os técnicos) aconselhados a não coletar. Você tem alguma sugestão?"

Essa dúvida, tem uma resposta que eu não gosto, mas que frequentemente precisa ser usada : Depende !

Se for uma lavoura recente (1° plantio) em uma área remota, sem aplicação de pesticidas e/ou fertilizantes e/ou corretivos me parece que, em princípio não há problema. porém é necessário que o técnico amostrador registre na caderneta de campo, a situação de cada amostra coletada.
Se estivermos buscando ouro ou diamante, com contagem de pintas ou descrição mineralógica em concentrados de bateia, também não me parece haver grandes problemas, exceto que os horizontes superiores do solo serão revolvidos e destruídos pelos equipamentos agrícolas como o arado de discos.
A questão dos corretivos agrícolas é muito séria, pois a legislação exige deles apenas uma breve caracterização quanto a teor de CaO, MgO, residuo insolúvel (SiO2), granulometria e poder de neutralização - PRNT. Os elementos menores e traço não são analisados pois não são exigidos pela norma legal.
Corretivos agrícolas que são produzidos a partir de margas e calcários com muita matéria orgânica, são naturalmente enriquecidos em diversos metais usados na exploração mineral como indicadores e farejadores de depositos minerais, como Pb, Cu, Cd etc.. O problema se amplifica quando tratamos de fertilizantes produzidos a partir de fosforitas.
Uma vez, entrei casualmente numa loja de produtos agrícolas e examinei a formulação/composição química  impressa na embalagem de um fertilizante. Encontrei 6% N; 16% P; 16% K; 2% Mg; mas também 4,2% S; 0,15% B; 0,5% Zn (5.000 ppm Zn); 0,05% Cu (500 ppm Cu); 0,3% Mn (3.000 ppm Mn); 0,01% Mo (100 ppm Mo) e 0,0023% Co (23 ppm Co). Imagine o estrago que um produto com essa formulação produz num levantamento geoquímico. A aplicação desse produto numa lavoura acarreta uma contaminação ambiental severa pois nem todos os metais serão absorvidos pelos vegetais, e o resíduo será transportado para a rede hidrográfica ou se acumulará no solo. Isso produzirá uma grande elevação dos teores de fundo (background) desses metais, produzindo anomalias não significativas - não associadas a depósitos minerais.
Ess é um dos motivos da minha defesa da reanálise de amostras coletadas há muitos anos e guardadas com cuidado (veja uma das primeiras matérias do blog que trata desse assunto), pois elas refletem as condições ambientais anteriores à enorme expansão da atividade agrícola e a maciça aplicação de pesticidas, fertilizantes e corretivos, especialmente em regiões que naquela época eram remotas. Nas prateleiras desses arquivos de amostras, o ambiente de 30 anos atrás está virtualmente "congelado".

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Prezado Otavio,

    Muito interessante e importante este blog, esta era uma dúvida que sempre tive,

    Saudaçoes, Thiago Schlichta

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