terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Da longa e interminável série "Geoquímica, geoquímica, quantas bobagens se cometem em teu nome..."

Atualmente estou montando uma base de dados litogeoquímicos da Formação Serra Geral (cerca de 1.000.000 k2 e 1.600 m de espessura de basaltos, andesitos, dacitos e riolitos). Estão reunidas cerca de 4.300 amostras coletadas em superfície e em poços e compiladas de dezenas de dissertações, teses, artigos ou recebidas em tabelas de dados enviadas por seus autores do Brasil e do exterior.
Nessa pesquisa, descobri na internet um resumo de congresso, apresentado por um grupo de pesquisadores da área de química. Coletaram amostras de pó de basalto e as analisaram  por fluorescência de Raios X, para estudar os impactos ambientais da aplicação desse produto na agricultura, o que em si só já é questionável, pois o teor dos elementos por fluorescência de raios X é total e não biodisponível, e mais ainda que foram analisados apenas os óxidos.
Mas voltando ao tema principal, a tabela de resultados apresentada no dito resumo mostra que as duas amostras analisadas teriam mais de 40% Fe2O3 total e cerca de 21 % SiO2. Espantado com esses resultados, enviei uma mensagem ao primeiro autor, alertando-o para o evidente erro. A resposta veio dois dias depois, me informando que todos os resultados havia sido revistos, que realmente o Fe2O3 tinha valores mais altos que SiO2 e que todos os resultados estavam corretos. Como sou insistente - ou melhor, muito chato - escrevi nova mensagem alertando que esses resultados de SiO2 estavam evidentemente errados e que se por absurdo estivessem corretos, só isso seria motivo de um artigo em periódico científico internacional de qualidade A, pois pela primeira vez rochas ultrabásicas teriam sido encontradas à superfície na Formação Serra Geral, menos silicosas até que dunitos e peridotitos. Nova resposta me informou que realmente as rochas analisadas eram básicas pois os solos tinham pH = 8,03. Não resisti a tamanha barbaridade e enviei uma nova mensagem, um pouco mais ríspida, esclarecendo ao nobre discípulo de Schonbeim que as rochas são básicas ou ácidas pelo seu conteúdo em SiO2 (um óxido ácido) e não pelo valor do seu pH. Estupefato, "enfiei a viola no saco" pensando qual seria o próximo capítulo dessa longa e interminável série "Geoquímica, geoquímica, quantas bobagens se cometem em teu nome..."

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