sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Garçom, me dá uma média !

Média ! Uma medida estatística simples, útil, muito fácil de calcular, mas também a responsável involuntária por tantos mal-entendidos e fracassos. Numa situação especial onde há uma homogeneidade nas medidas, sem variações bruscas, elá é uma estimativa muito boa da média dos valores. Porém quando ocorrem bruscas variações ou medidas muito discrepantes, a média pode se transformar num veneno mortal. Em Porto Alegre, dizem que a profundidade média do lago (ou rio) Guaíba é de 1,20 m, mas ninguém se atreve a atravessá-lo a pé ! Essa impossibilidade é devida ao desvio padrão, materializado nesse caso num canal de navegação com cerca de 10 metros de profundidade. A simples existência desse canal profundo provoca uma forte assimetria nas medidas da profundidade das águas e faz com que a média não mereça a mínima credibilidade de quem quiser cruzar caminhando o lago Guaíba, sem usar uma bóia.
Na década de 1950, Ahrens descreveu o comportamento dos teores dos elementos menores e traço em materiais geológicos, mostrando seu caráter assimétrico. Depois dele, dezenas de autores publicaram centenas de artigos e livros sobre essa questão - a assimetria dos dados geoquímicos. Assim, sendo eles assimétricos, não faz nenhum sentido aplicar-lhes uma medida estatística concebida para distribuições simétricas.
Porque eu insisto em postar tantos textos sobre essa questão ? É porque por desconhecimento, pressa ou até preguiça, muitos geólogos usam a média e o desvio padrão para descrever dados geoquímicos e caracterizar anomalias geoquímicas sem ter se preocupado antes de se certificar se essa abordagem é a adequada.
Para isso só há uma alternativa: conheça os seus dados geoquímicos. Esprema-os até conhecê-los profundamente. O jornalista e economista Joelmir Betting disse uma vez que "Estatística é a arte de torturar os dados até que eles confessem." Concordo com ele.

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