domingo, 29 de maio de 2011

Técnicas geoquímicas em perícias forenses

Dentre as aplicações das técnicas gequímicas, a perícia forense é sem dúvida uma das mais instigantes. Encontrar evidências e rastros que levem a localização da vítima e à prisão e punição dos culpados é algo que prende a atenção nos seriados C.S.I. (Crime Scene Investigation).  O breve resumo abaixo mostra a eficiência das técnicas geoquímicas nas pesquisas realizadas na Bolívia para identificar o local e recuperar os restos mortais do grupo de Che Guevara.
Após sua captura em 8 de outubro de 1967, os sobreviventes do grupo guerrilheiro de Che Guevara foram levados para a base de operações do exército boliviano, no campo de pouso de Vallegrande no sudeste da Bolívia. Após as torturas de praxe, foram executados e o destino dos corpos permaneceu uma incógnita até 1995, quando o general boliviano aposentado Mario Vargas Salinas concedeu uma reportagem ao The New York Times dizendo que os corpos haviam sido sepultados ao lado da pista velha do aeroporto de Vallegrande. Em 1996, sucedendo uma equipe de arqueólogos argentinos que não havia sido bem sucedida, uma equipe de especialistas cubanos recebeu autorização do governo boliviano para continuar as buscas. A partir de informações históricas, os trabalhos de prospecção arqueológica começaram em janeiro de 1997 em 12 zonas totalizando 9.000 m² com escavações controladas a cada metro. Dentre as técnicas exploratórias utilizadas as determinações de fosfato e de pH foram as mais eficientes em virtude do contraste entre os solos da região e as possíveis anomalias geradas pela decomposição dos corpos. Os solos da região são pobres em fosfato e neutros a ligeiramente ácidos. Ao final, com a descoberta dos restos mortais foi comprovado que as anomalias de altos níveis de fosfato e de baixos valores de pH se restringiram à área ocupada pelos corpos que estavam amontoados em uma cova.
As técnicas geoquímicas foram ferramentas auxiliares importantes às técnicas geofísicas como o geo-radar na localização e recuperação dos restos mortais do grupo. A identificação de cada guerrilheiro inclusive de Che Guevara foi feita com base em análises forenses de radiografias dentais, superposição craneofotográfica e DNA.

Fonte:  
Roberto Rodriguez Suárez. Arqueologia de uma procura e de uma busca arqueológica: a história do achado dos restos de Che Guevara. Capítulo I, pg 29-51. In: Pedro Paulo A. Funari, Andrés Zarankin, José Alberioni dos Reis(org.) Arqueologia da repressão e da resistência na América latina na era das ditaduras (décadas de 1960 / 1980). São Paulo. Annablume. FAPESP 2008

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