sábado, 26 de fevereiro de 2011

Tolerância ?

A polêmica originada da minha discordância quanto a mistura entre religião e ciência (postagem de 21 de fevereiro) tomou caminhos inimagináveis já que a quantidade de acessos a este blog foi recorde - 1.034 acessos apenas nos últimos cinco dias.

Recebi porém, na forma de um eMail privado, uma mensagem enviada por um geólogo e apoiada por mais 19 geólogos, intitulada "Ao Sr. Otavio Licht - dos geólogos da UFPR" (esclareço que nessa lista de apoiadores não consta nenhum professor) na qual me acusam de preconceituoso com relação a classe social, gênero, etnia e religião. Quanto a essas acusações só me resta rir, já que são flagrantes delírios.
As postagens do meu blog são a expressão de minhas idéias e o considero um fórum adequado para contestações ou concordâncias, como um canal livre e democrático. Quem não concordar com os conteúdos aqui postados, que deixe seu comentário no espaço adequado no próprio blog e eu responderei se achar conveniente e possível. Nunca bloqueei a possibilidade de que qualquer pessoa deixe aqui a sua opinião, contrária ou favorável, desde que o autor se identifique claramente sem se esconder sob apelidos ou codinomes e que a postagem não contenha ofensas pessoais ou de conteúdo imoral, amoral ou antiético - nesses casos os comentários serão sumariamente eliminados. A propósito, constatei que até agora há dois comentários favoráveis e nenhum contrário, e apenas uma enxurrada de votos avaliando a minha postagem como Fraca.

O caminho da ciência é longo e muito tortuoso, cheio de obstáculos e de dúvidas, pois está baseado em fatos sujeitos a aperfeiçoamentos e alicerçado na incerteza e no questionamento constante das conclusões obtidas. Somente com a clara convicção dessas limitações é que o conhecimento científico progride. Assim, reafirmo minha firme convicção de que cientistas livres das barreiras e dos limites impostos pelas religiões, são mais isentos para aprofundar e consolidar o conhecimento científico.

Por outro lado, reafirmo minha concepção de que, se alguém por uma opção individual, acreditar nos princípios e em dogmas religiosos não deve minimamente pensar em duvidar deles ou questioná-los, pois esse é o sólido embasamento sobre o qual repousam todas as religiões.

Reafirmo minha forte convicção de que a crença e fé religiosas são opções individuais inquestionáveis e que devem ser garantidas a qualquer um, em qualquer situação e a qualquer custo, assim como a opção individual de não ter nenhuma crença ou fé religiosas. Essas opções pessoais não devem sofrer ameaças de qualquer natureza. Para que fique bem claro, eu expus a minha, mas NUNCA QUESTIONEI A OPÇÃO RELIGIOSA E A CONCEPÇÃO DA EXISTÊNCIA OU INEXISTÊNCIA DE DEUS OU DE DIVINDADES DE QUEM QUER QUE SEJA.

Isto posto, reafirmo minha firme convicção de que a mistura da ciência com a fé religiosa é indesejável, por delimitar o avanço e impedir o aprofundamento dos limites da investigação científica.

Considero que esse tema é importante, instigador, provocador, relevante, esclarecedor e revelador já que expõe as variadas concepções que geólogos têm quanto a criação do universo, a formação de nosso planeta, os processos geológicos relacionados com a dinâmica interna e externa, a evolução, a transformação, a ciclagem, a especiação e a migração dos elementos químicos, a radioatividade e as idades absolutas, os princípios básicos e fundamentais da geologia como o uniformitarismo e a deriva continental, enfim todas as relações de causa-e-efeito que ocorrem nessa fina e sensível teia que interconecta todos os componentes desse sistema complexo que é nosso Planeta. Tudo isso tão desconhecido... !

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Fé de mais ou fé de menos ?

Deus é um conceito criado pelos homens para seu conforto espiritual, para minimzar seus medos, para explicar o desconhecido e agir como uma válvula de escape para a limitação de nosso conhecimento científico. Quando no século XVI, Vasco da Gama, Cristóvão Colombo, Américo Vespúcio e Pedr'Álvares Cabral, partiram da Europa com suas caravelas iniciando uma era de grandes descobrimentos e uma profunda revolução do conhecimento e da cultura ocidentais, o maior temor deles era que pudessem cair da borda do mundo, imaginado como um grande prato apoiado nas costas de enormes elefantes ou então que seriam devorados por serpentes e monstros marinhos. Para qualquer eventualidade, a bordo estava sempre um capelão - lembram do Frei Henrique de Coimbra ?
A minha opinião, um geólogo com 62 anos de idade e 36 anos de profissão, formado pela UFRGS, uma universidade federal pública e gratuita é que, se alguém quiser acreditar em Deus, não tenho nada a opor. Pelo contrário, cada um acredita no que quer e no que lhe faz bem. Mas por favor, que não se misturem as coisas ! Ciência e religião são como água (benta?) e azeite de oliva (de primeira prensagem): jamais se misturam e sempre serão duas fases separadas e distintas. Mas se essa imiscível mistura continuar, estarão se  estabelecendo limites inaceitáveis para o processo de investigação científica.

Nunca é demais lembrar que a natureza não é uma acumulação acidental de objetos, de fenômenos isolados e independentes, mas um todo unido e coerente, onde os fenômenos são interligados, dependem mutuamente e se condicionam reciprocamente. A natureza não está em estado de repouso e de estagnação, mas em movimento incessante e mudança perpétua de renovação e desenvolvimento, onde sempre algo novo nasce e se desenvolve e algo se desagrega e desaparece. Lembrem que o processo de desenvolvimento resulta de uma soma de insignificantes mudanças quantitativas para mudanças qualitativas aparentes e radicais; que as mudanças qualitativas não são graduais, mas rápidas, súbitas e operam aos saltos de um estado para outro e são o resultado da acumulação de mudanças quantitativas insensíveis e graduais. Que os fenômenos e objetos da natureza implicam em contradições internas, portanto eles têm sempre um lado positivo e um negativo, um passado e um futuro, todos têm elementos que desaparecem ou que se desenvolvem; a luta desses contrários, a luta do antigo e do novo, entre o que morre e o que nasce, entre o que perece o que se desenvolve, é o conteúdo interno do processo de desenvolvimento, da conversão das mudanças quantitativas em mudanças qualitativas. Se você que chegou até aqui nunca leu esse texto ecologicamente correto e acha que foi escrito por um guru indiano ou um monge budista ou por Fritjof Capra (aquele do Ponto de Mutação, já leu ?), saiba que ele trata da Dialética da Natureza, está no parágrafo 2, do Capítulo IV escrito por Joseph Stalin no compêndio da História do Partido Comunista da URSS, um autor evidente, decidida e historicamente ateu e agnóstico.

Finalizo dizendo que geólogos ou cientistas da Terra, têm a obrigação de desconfiar e duvidar sempre. Essa é a base do processo científico e é assim que a ciência progride. Esse é o monumental abismo que separa e divide os mundos científicos e religiosos, pois dos dogmas da religião nunca se duvida, neles apenas se crê. Devem acostumar-se sempre a desconfiar e a duvidar da história contada pelos vencedores. Normalmente ela contém armadilhas e desvios colocados propositalmente para iludir e “pegar os ratões” de espírito crédulo e pacífico. Sabiam que Pedr'Álvares foi precedido por dois espanhóis, Diego de Leppe e Vicente Yañez Pinzón, que velejaram pela costa do Brasil alguns meses antes de que Cabral chegasse a Porto Seguro em 21 de abril de 1500 ?

Se vocês quiserem ter uma outra visão da natureza, recomendo a leitura de Notas Introdutórias à Lógica Dialética, de Caio Prado Júnior, Editora Brasiliense, 1968.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Causos de geólogos

Esse causo foi enviado pelo Edir Arioli.
"Trabalhávamos no campo, (José) Fanton e eu, em Galiléia, médio vale do rio Doce, avaliando pegmatitos com a ajuda de dois peões de lá, o seu Chiquinho, que chamávamos de "Passa de Gente" por causa da figura diminuta e encarquilhada, e o seu Miguel, cujos setentas e tantos anos não impediam que ele nos deixasse para trás nas caminhadas morro acima. Com as nossas mochilas nas costas... Dois exemplares da sabedoria do matuto brasileiro, o primeiro analfabeto o suficiente para não perder a esperteza natural, o outro com uma autoridade espontânea sobre os subordinados que nos causava inveja, como pretensos superiores dentro do projeto.
Todos os dias a mesma rotina de trabalho duro e no almoço aquele suculento sanduíche esmagado e morno.
Um certo dia de calor insuportável, roíamos os nossos sanduíches à beira de uma estradinha qualquer, jogando conversa fora e repassando observações que havíamos feito no último garimpo, quando o seu Chiquinho veio com esta:
- Doutor Orion (ele nunca conseguiu aprender o meu nome), das profissões de doutor que conheço, a sua é a mais derrubada!"

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Nada como a sabedoria indígena



Quando se corre muito, há que parar e esperar pela alma
(Provérbio dos índios Guarany, antigos habitantes do Brasil meridional)




 
 

Foto: http://www.verdestrigos.org/sitenovo/site/resenha_ver.asp?id=211

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Um bom roteiro para um curso de geologia

Encontrei um excelente roteiro para aulas de geologia na homepage do Prof. Dr. William (Bill) P. Patterson, Diretor do Laboratório de Isótopos, Departamento de Ciências Geológicas, Universidade de Saskatchewan, Canada. São diversos módulos. Alguns têm sequências de slides e outros apenas os itens que serão abordados nas aulas

Essa é a homepage do Bill: http://geochemistry.usask.ca/bill.html

Se alguém aproveitar algo, não esqueça de fazer referência à fonte (http://geochemistry.usask.ca/bill.html). Abaixo a pirataria intelectual !

Do bestial ao genial

Folheando o belíssimo livro "Do bestial ao genial" de Paulo e André Buchsbaum (Ediouro) encontrei algumas pérolas de finíssima ironia que transcrevo abaixo:

Democracia: você diz o que quer mas faz o que lhe dizem (Gerald Berry)

Democracia é o sistema em que pessoas são livres para escolher alguém que as frustará (Laurence Peter)

A tendência da burocracia é achar objetivo em qualquer coisa que esteja fazendo (John Kenneth Galbraith)

Burocracia: uma dificuldade para cada solução (Herbert Samuel)

Creio na família, na tradição e na propriedade, desde que por tradição, a propriedade seja de minha família (Jô Soares)

Huehuetlatolli

Essa postagem foi sugerida pela arquiteta Flavia Boni Licht.

Huehuetlatolli ("la antigua palabra") são discursos que os velhos passavam aos jovens, os mestres aos estudantes e os pais aos filhos, com a finalidade de aconselhar e de educar, e esses os transmitiam de geração a geração dentro da cultura Azteca.

Esse Huehuetlatolli está numa parede do Museu de Antropologia do México. Peço desculpas e assumo a responsabilidade pela tradução


Ten cuidado de las cosas de la tierra:
haz algo, corta leña, labra la tierra, 
planta nopales, planta magueyes. 
Tendrás que beber, que comer, que vestir.

Con eso estaras en pie, seras verdadero, 
con eso andaras. 
Con eso se hablara de tu. 
Se te alabara con eso, te daras a conocer.

"Tenha cuidado com as coisas da terra:
faz algo, corte a lenha, lavre a terra
plante cactus, plante ágave.
Terás o que beber, o que comer e o que vestir.

Com isso estarás de pé, serás autêntico,
com isso andarás.
Com isso falarão de ti.
Se amanheces assim, serás reconhecido."