Durante o curso de vulcanologia que assisti em novembro de 2010 nos Andes Centrales, tive oportunidade de muito boas charlas (conversas), e muitas delas foram com Alfredo Jacobs Fuentes, boliviano, engenheiro geólogo formado na Universidade de Ouro Preto e que atualmente trabalha na Minera San Cristóbal na Bolívia.
Ao saber de meu interesse por história e livros antigos sobre mineração, ele me passou um livro que “baixou” do Google Books. É “Arte de los metales em que se enseña el verdadero beneficio de los de oro, y de plata por azogue. El modo de fundirlos todos, y como se han de refinar y apartar unos de otros.” Foi escrito pelo Licenciado Alvaro Alonso Barba, nascido na Villa de Lepe na Andaluzia, Cura da Paroquia San Bernardo, na Imperial de Potosi. Foi publicado pela primeira vez em 1637 com a aprovação de Diego de Padilla, Andrés de Sandoval e Bernardo de Ureña “Diputados del Gremio de Azogueros” (algo como a associação dos especialistas em mercúrio) da Villa de Potosí e com Imprimatur de 1639 por Don Paulo Barondelet.
No Capítulo XII, há uma deliciosa descrição “De la generación de las Piedras” que vou tentar traduzir. “Não se pode ter dúvidas que haja alguma virtude ativa, que engendre, e faça as pedras, como há para todas as outras coisas gerais e corruptíveis do Universo; mas esta é muito difícil de conhecer, por não ter lugar definido para geração, pois nos ares, nas nuvens, na terra, na água e nos corpos dos animais vemos que se produzem pedras. É sua matéria próxima, como já disseram Avicena e Alberto, uma mistura de terra e água, que se tem mais água que terra, se chama suco (Jugo); e se tiver mais terra que água, o chamamos lodo: o lodo tem que ser viscoso e tenaz para que ao ser fervido possa produzir as pedras, como é o que se usa para fazer telhas, tijolos e outros vasos; porque se não for assim, quando a umidade se evaporar com o calor, não ficará unida, e então a matéria se transformará em pó e terra.”
No Capítulo XIII o autor discorre sobre “De las diferencias que hay de Piedras”. “Toda a diversidade que existe de pedras pode ser reduzida a cinco gêneros; porque se são pequenas, raras, duras e que têm brilho e lustro, são as que se chamam Preciosas; se são grandes, ainda que sejam raras e que brilhem muito, se reduzem aos Mármores; se ao serem quebradas ficam aguçadas ou como escamas, são as Pederneiras; se estão finamente granuladas, são Guijarros; e se não têm os características acima, são as Penhas ou Pedras Ordinárias.”
O Capítulo XXIV contém os segredos de “Còmo se buscan las vetas de Metales”. “(...) Dão as cores dos morros, indício de que têm ou não minerais em suas entranhas.(...) Não há regra infalível e certa para que apenas a cor da terra seja um argumento de uma espécie de mineral em particular, que nela se cria, a menos que as experiências ou ensaios consigam provar. E assim, ainda que o material mais ordinário em que se cria o Ouro é vermelho ou amarelo escuro como um tijolo mal cozido, também se acham seus veios entre materiais esbranquiçados como em Oruro e Chayanta. São louros, da cor do trigo os demais minerais, ou Morros de Prata dessas Províncias (...) mas se ocorrem os veios encobertos, que se chamam Encapados, se procuram dessa maneira. Pelos vales, entre os morros, por onde a água corre quando chove, ou por outras partes de suas encostas, se sobe pouco a pouco com o martelo que chamam Catador na mão, aquele que tem uma ponta de aço numa parte para cavar se for necessário, e na outra, chata, para quebrar as pedras; deve se prestar muita atenção para as diferenças que há entre as pedras, e ao quebrá-las, as que reconhecidamente não se parecem com as ordinárias se encontram algumas, já medianas, ou muito pequenas de metal: deve-se considerar sempre segundo o local, o lugar de onde puderam cair que é necessário que seja sempre de mais alto. Chamam essas pedras de metal que se acham assim, de Rolados. Seguindo-as morro acima, enquanto se vê o rastro delas, e não existindo mais, é sinal certo de que por ali está o veio. Descobre-se com uma enxada, servindo de guia seguro, os fragmentos soltos de metal que se encontram ao cavar.
Os olhos de água ou mananciais que se vêm nos morros, são bons indícios da proximidade dos veios, pois a água corre por esse e por aqueles sai.
Costumam ser sinais de veios, árvores ou ervas que sendo de um gênero, se vêm plantadas em linha, indicando a Mina que corre por debaixo delas. Não crescem tanto nem têm cor tão viva como as demais plantas que se criam sobre os veios de metais; porque as exalações que saem deles as enfraquecem; consomem-se por esse motivo mas apressam o orvalho da manhã que cai sobre elas e mesmo a neve se derrete primeiro nos morros que têm Minas que nos vizinhos que não as têm, e no lugar onde há veios antes que nos lugares que não os têm.”
As observações de Alvaro Alonso Barba seguem sobre os diversos metais, suas formas de fundir e beneficiar. São especialmente interessantes as experiências sobre os cuidados na manipulação do mercúrio para a recuperação do ouro, para evitar suas perdas e desperdícios. São também muito interessantes os Capítulos XIII e XIV do Livro 4 “Del Arte”, que detalham os procedimentos para analisar, e os cuidados a serem adotados quando se está fundindo uma amostra de minério com o objetivo de definir o teor de uma mina de ouro, cobre, prata ou chumbo.
Sem dúvida nenhuma, um dos primeiros livros sobre as técnicas de prospecção, tratamento e beneficiamento de metais publicados na América do Sul.
Nessa edição de 1770 que recebi do Alfredo, foi acrescentado “El Tratado de las Antiguas Minas de España”por Don Alonso Carrillo y Lasso, Cavalheiro do Avito de Santiago e Cavalariço de Cordova.
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