segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Prospecção hidrogeoquímica no século XVI

Vannoccio Vincenzio Austino Luca Biringuccio nasceu em Siena em 1480 e faleceu em Roma em 1539. Era apadrinhado da familia burguesa Petrucci de Siena. Ainda jovem, viajou pelos territórios que 250 anos depois seriam a Itália e a Alemanha, e visitou as fundições de latão e bronze de Milão. Ao retornar, foi enviado por Pandolfo Petrucci para dirigir as minas de ferro de Boccheggiano na Toscana. Na revolta popular ocorrida em Siena em  1515, Biringuccio e o ourives Francesco Castori foram acusados de alterar a composição da liga das moedas. Fugiu para Nápoles para não ser preso. Com a interferência do Papa Clemente VII, conseguiu retornar a Siena, onde recebeu o monopólio de produção do sal petrae (KNO3), nitrato natural usado na fabricação de pólvora e na metalurgia. Muitos anos e algumas batalhas depois, em 1536 ele tornou-se o superintendente da fundição e diretor das munições do Papa Paulo III.

No livro De la Pirotechnia,  que é considerado o primeiro manual da metalurgia e fundição ocidental, e que foi publicado em 1540, após sua morte, ele resumiu todo o seu conhecimento prático e teórico. Mas como cabe a todo "cara" genial, além de preocupar com o beneficiamento dos metais ele detalhou no "Prefácio ao Primeiro Livro" a forma de ocorrência dos minérios e algumas técnicas para encontrá-los. Esse texto com 13 páginas, denominado "Quanto a localização dos minérios" contém preciosidades, algumas delas estão abaixo (numa tradução livre) : 

 "(...) segundo bons pesquisadores, minérios são encontrados em muitas partes do mundo. Geralmente eles se mostram como as veias de sangue no corpo dos animais, ou os ramos das árvores que se espalham em todas as direções. Na verdade, pesquisadores cuidadosos dos minerais, desejando fazer uma analogia, de como os minérios se localizam nas montanhas, desenham uma grande árvore com muitos galhos, plantada na base da montanha. Do tronco se estendem diversos ramos, uns finos outros grossos, exatamente como nas árvores de uma floresta. Eles pensam que eles crescem e aumentam continuamente em direção ao céu, convertendo à sua natureza todos os materiais vizinhos e inúteis, de forma que finalmente as pontas chegam ao cume da montanha e emergem com claros sinais, e ao invés de folhas e flores, emanam  fumosidades azuis e verdes, marcassitas com pequenos veios de minerais pesados ou outras composições e tinturas." 

"(...) você procurará nas vertentes dos vales, nos pedaços quebrados de rochas, nas cristas e nos picos das montanhas e também nos leitos e cursos dos rios; e olhando nas suas areias ou entre as ruinas dos diques e valos, onde geralmente aparecem as marcassitas ou pequenos fragmentos de minérios ou outras tinturas metálicas, facilmente você terá indicações a partir dessas coisas que certamente existirá minério nesses locais. Exatamente onde ele está, deverá ser definido pela cuidadosa observação das escavações à medida que elas forem sendo abertas."

"(...) Existem alguns que consideram como um bom sinal, certos resíduos que as águas deixam onde estão paradas ou depois de terem repousado por alguns dias; frequentemente aquecidas pelos raios do sol, algumas partes desses resíduos mostram diversas tintas de substâncias metálicas. Há outros que colhem essa água e provocam sua evaporação ou a secam totalmente por aquecimento em um vaso de cerâmica, vidro ou outro material, e então testam o material terroso que restou no fundo, pelo sabor, por simples análise de fusão, ou por outro modo que lhes agrade. Desse modo (muito embora  não tenham uma prova exata) eles tem um conhecimento aproximado da coisa."

Meus caros, estamos falando de século XVI ! Me impressiona nessas descrições, o conhecimento dos processos de migração e dispersão de metais dissolvidos nas águas superficiais e subterrâneas e que as técnicas de prospecção hidrogeoquímica já eram usadas com freqüência e até com certa sofisticação analítica. Daí para a espectrometria de massa por plasma induzido "foi um pulinho" !

O meu exemplar do De La Pirotechnia, é uma tradução de Cyril Smith e Martha Gnudi, edição de 1942 da Basic Books, Inc. tem 477 páginas e foi comprado na Amazon.com pela "fortuna" de US$ 16,50

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