A questão da hidrogeologia e a discussão que volta e meia retorna no sistema CONFEA-CREAs para a "abertura" da atribuição a profissionais sem preparo e capacitação tem duas faces. A primeira delas é uma disputa corporativista por mercado de trabalho e de serviços, apoiada no poder e nas influências. Um reflexo da "banda podre" da cultura política brasileira, pois o objetivo final é ocupar espaços e ganhar dinheiro. É claro que não sou contra a ganhar dinheiro, mas principalmente nesse caso tem que ser pela formação e pela competência.
O outro lado da questão, é o resultado dessa ação sobre o usuário final do serviço ou melhor "da obra" como querem os engenheiros civis. Há exemplos de poços perfurados sem o mínimo cuidado quanto a análise da qualidade da água, que tiveram resultados nefastos sobre a população, como o que foi perfurado lá pela década de 1980 na localidade de São Joaquim do Pontal, municipio de Itambaracá, norte do Paraná, em cuja água não foi analisado o teor de fluoretos. O resultado é que 68% das crianças mostraram fluorose dentária a ponto de ser necessária a substituição de dentes por próteses, tal o grau de severidade da moléstia.
Outro caso clássico é o da cólera endêmica que havia (e acho que ainda há) em Bangladesh. O governo central e a ONU patrocinaram a perfuração de milhões (sim, eu disse milhões) de poços para que a população evitasse o consumo da água superficial contaminada com o vibrião. A água não foi analisada com o cuidado necessário ou por desleixo, esquecimento ou falta de suporte analítico e o resultado é que o arsênio presente no aquífero em estado reduzido de valência, oxidou-se e produziu muitas centenas de casos de câncer de pele que evoluíram para casos mais graves e morte. É logico que nem todos os poços apresentaram o problema, mas mesmo assim a população exposta ao risco está na casa de dezenas ou centenas de milhares.
A conclusão é que a perfuração de um poço não é apenas uma obra de engenharia, pois envolve o conhecimento do aquifero e principalmente a caracterização incial e o monitoramento da qualidade da água (dadas as flutuações sazonais que ocorrem nos teores) da maneira mais completa possível. Imagine quantas vezes por semana a água de uma estação de tratamento de água é submetida a uma análise completa com o apoio e participação de sanitaristas, quimicos, analistas etc. Se é assim com a água tratada, porque a água de um poço tubular raso ou profundo não é considerada de maneira semelhante ? Porque a água subterrânea é tratada como se fosse um produto quimicamente puro e eternamente puro ? Se ela recebeu a classificação de água mineral, é porque não é pura e tem carga iônica de composição variada e característica, ora bolas. Irresponsabilidade, desleixo, desconhecimento, ignorância, dificuldades burocráticas na contratação de um bom laboratório (eu disse um bom laboratório) ou conveniências politicas eleitoreiras ?
E fazendo um trocadilho cruel e politicamente incorreto, "quem bebe é que toma !
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