Os trabalhos executados na Formação Serra Geral na porção Sulamericana da Província Paraná-Etendeka, baseados exclusivamente na estratigrafia geoquímica, não levaram em consideração as evidências da faciologia e na existência e abundância de materiais inter-derrames. Há apenas poucos anos, um grupo de pesquisadores (Evandro Lima e Carlos Sommer da UFRGS; Breno Waichel da UFSC; Eleonora Vasconcellos da UFPR; Edir Arioli e eu da Mineropar) começou a investigar essas evidências e esboçar modelos faciológicos e estilos eruptivos. Com os resultados que começaram a ser publicados há cerca de 5 anos, fica claro que o antigo modelo de vulcanismo basáltico fissural, de baixa energia eruptiva pode ter ocorrido, mas não foi o predominante. Além do mais, os "arenitos inter-trapp" e os "diques clásticos" que eram considerados como depositados pelo vento do deserto dominante durante os períodos de interrupção das erupções, são na verdade as marcas dos eventos explosivos resultantes da interação entre o magma básico em ascensão com sistemas aquíferos profundos. Em respeito aos pioneiros e para preservar a autoria, a identificação de piroclásticas na Fm Serra Geral foi registrada pela primeira vez por Reinhard Maack em 1947 e depois por Pichler (1952) e Schneider (1970).
A repetição desse processo eruptivo explosivo, promoveu grandes impactos nas características da sequência vulcânica tais como: uma enorme transferência de material - sólido e líquido - da sequência sedimentar para a vulcânica; um espessamento desmesurado da sequência vulcânica; uma forte contaminação dos magmas básicos, o que se reflete nas tipologias geoquímicas muito diversificadas das lavas; uma zonalidade dos minerais de preenchimento de vesículas e geodos e da alteração hidrotermal; e a ocorrência de eventos explosivos de grande magnitude que podem ter provocado efeitos sobre o clima global. É bom lembrar que a deposição dessa sequência vulcânica de mais de 1.700 m de espessura, ocorreu num período muito curto de cerca de 1,2 Ma com a extrusão de quase 1.000.000 km³ de lavas e depósitos vulcanoclásticos. É claro também que os modelos exploratórios necessitam de uma profunda revisão e que esse modelo eruptivo pode ter produzido depósitos minerais ainda não imaginados ou suficientemente pesquisados.
No mapeamento geológico de sequência vulcânicas, a unidade de mapeamento tem que ser delimitada com base nas características distintivas em campo e a geoquímica e a geofísica (gamaespectrometria e susceptibilidade magnética) servirão para definir as assinaturas características da unidade. É sempre bom lembrar que o mapeamento geológico é um experimento científico e por isso, as divisões estabelecidas em um mapa geológico feito por um grupo de pesquisadores devem ser observadas com base nos aspectos de campo por qualquer outro observador.
Dessa forma, no mapeamento de sequencias vulcânicas, a geoquímica é fundamental, mas não pode ser usada como primeiro critério para a divisão de unidades. Parece evidente que magmas idênticos sob diferentes condições ambientais (p.ex. derrames pacíficos x eventos explosivos) podem dar origem a conjuntos com características totalmente diversas, assim como as relações e proporções de lava x material vulcanoclástico.
Desde 2003, o Edir Arioli e eu estamos envolvidos com o mapeamento geológico do Serra Geral no Estado do Paraná. Está finalizado o mapa geológico de 60.000 km² mas ainda faltam trabalhos de campo em cerca de 30.000 km². Desde o final de 2010, estou envolvido e pesquisando em detalhe as evidências de hidrovulcanismo (erupções explosivas com magma básico) na Bacia do Paraná e na proposição de um modelo eruptivo. O relatório interno (figura com a capa à esquerda) dessa pesquisa que é um dos produtos derivados desse mapeamento geológico, está disponível (acesse pelo link abaixo).
Espero que esse relatório sirva, pelo menos, como tema para reflexão sobre a necessidade de revisar os dados, modelos e conceitos estabelecidos. Mesmo que o modelo eruptivo baseado no hidrovulcanismo, tenha sido elaborado para a Formação Serra Geral (em breve Grupo Serra Geral), ele se aplica, com as adaptações necessárias, a qualquer província vulcano-sedimentar (pelo menos as intraplacas) independentemente de sua idade. O importante é buscar as evidências de campo e depois os dados de laboratório, pois como diziam meus velhos mestres da Escola de Geologia da URGS "A geologia entra pelos pés."
Espero que esse relatório sirva, pelo menos, como tema para reflexão sobre a necessidade de revisar os dados, modelos e conceitos estabelecidos. Mesmo que o modelo eruptivo baseado no hidrovulcanismo, tenha sido elaborado para a Formação Serra Geral (em breve Grupo Serra Geral), ele se aplica, com as adaptações necessárias, a qualquer província vulcano-sedimentar (pelo menos as intraplacas) independentemente de sua idade. O importante é buscar as evidências de campo e depois os dados de laboratório, pois como diziam meus velhos mestres da Escola de Geologia da URGS "A geologia entra pelos pés."